as coisas se apagam, lúcidas e tristes
a solidão vibra, como sino enlouquecido
um homem caminha até a ponte
diz um segredo em meu ouvido
as horas estão órfãs
crianças sem braço passeiam na praia
há muito tempo que os céus
deixaram de ajudar o mundo
não será a noite
doce, vazia e gordurosa
a solução para a dor
suavemente metafísica
que me consome na primavera
os lobos do homem estão soltos
com seus dentes sujos
gengivas vermelhas
ferocidade cancerígena
como escorpiões loucos
sobre uma cama de vísceras
sedas e egoísmos
de que adiantam, tosco profeta
essas elocubrações
insossas que roubastes
dos poetas do pantanal?
de que adiantam,
emperdenidos dançarinos
do romance pós-moderno
seus malabarismos rítmicos
salpicados de pessimismo publicitário?
olvidastes os céticos
ingênuos que Maomé
transformou em cerveja?
ignoras o fim azul-morto
de todas as revoluções?
não! não repetirei a ladainha
anti-libertária dos poetas
encurralados em São Paulo
não morrerei tão cedo
que não veja
o mundo se desintegrar um pouco mais
ou terminar, como angustiadas
flores, secando
ao sol verde
dos cemitérios
Ouça o poeta recitando este poema.
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