está fora de moda, para o artista
falar de política,
a não ser, é claro
se for pra falar mal
do Bush ou do Lula
além do mais,
a situação do poeta
está tão precária
que o próprio diabo
é bem vindo
- o poeta sabe
que o pior diabo
é o estômago vazio
esquerda ou direita
são conceitos ultrapassados
e o poeta está
definitivamente
enjoado disso tudo
no fundo, o poeta
é um ser amargurado
com o mundo democrático...
as democracias
sempre citaram os poetas
como grandes líderes
espirituais
e sempre os deixaram
morrer de fome
os poetas têm saudades
dos tempos antigos
em que eram ajudados
pelos reis e por mecenas
ricos de Florença
as democracias
premiam os best-sellers
e condenam os poetas
a se tornarem
apresentadores de tv
poetas não gostam de trabalhar
e a democracia idolatra o trabalho
poetas adoram a devassidão
e a democracia é puritana
poetas são corruptos assumidos
e a democracia é moralista
poetas revolucionários
em geral são filhos
de latifundiários e isso lá
pros idos do século XIX
o poeta hoje
é conservador
porque tem medo, muito medo
de ser triturado pelo avassalador,
assassino, e hipócrita
idealismo do mundo
moderno
o poeta é absurdamente
individualista
não suporta "o coletivo"
no entanto,
políticos e filósofos,
da esquerda e direita,
não páram de citar os poetas
para justificar sua última tese
sobre a guerra ou a crise
as crises fazem parte do processo
mas não é o governo que libertará o Brasil
e sim poetas, engenheiros, proletários,
camelôs e camponeses,
uns sonhando, outros construindo,
até os ladrões tem seu papel
o Brasil se libertará com livros,
muitos livros,
que esmaguem a ignorância
e a violência
com seu peso inefável
sua força onírica
sua magia transcendental
agora, se não querem
patrulha ideológica
enchendo-lhes o saco
sejam coerentes
não patrulhem
os homens que fazem política
mesmo sendo poetas
são homens e tem sangue
circulando nas veias
no fundo no fundo
você já escolheu seu lado
só não tem coragem
de dizer
2 comentários:
Hoje fui assisyir a uma apresentação poética, em um lugar público. Era um grupo de jovens atores que dramatizavam a temática sócio-política-natalina da forma tradicional e crítica, como convém aos artistas. Pouca gente na grande arena do Memorial Zumbi, em Volta Redonda. Tem sido assim.As pessoas não querem ser guiadas por palavras de ordem, mas querem saber tudo. Não confiam na última palavra, na última verdade ou versão, mas querem interpretar o mosaico de mazelas que se desenha.Parece que estão aprendendo lentamente para depois fazer.
Os poetas, principalmente, entre outros intérpretes da realidade paralela, não têm paciência... daí a angústia que os joga para a pista lateral e os pinta de intelectuais, diferentes e malditos. Podia ser mais melhor, mas do ponto de vista de quem é revolucionário por hábito, parece que a revolução não anda. Mas anda, creia. Considere que manifestações inéditas dão conta de que a atual democracia está saturada. Vicente Melo
vicente, interessante seus argumentos. gostaria inclusive que voce explicasse melhor porque não entendi direito... miguel
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