O cinema e a vida

O filme Céu de Suely, de Karim Aїnouz, para mim, é o melhor do Festival, até agora. É realmente muito bonito, sensível, autêntico. Tecnicamente impecável. Adulto. Consequente. Não faz nenhuma concessão. Sem clichê. Sem piadinhas. Sem atores famosos (o que não é necessariamente bom ou mau, mas enfim...)

Nesta sexta-feira, assisti ainda Noel, Poeta da Vila, dirigido por Ricardo Van Steen. Cruz credo. Noel deve estar se revirando no túmulo. Que filme ruim, meu Deus. Dá até vergonha. Noel Rosa é, junto com Cartola e Ismael Silva, um dos fundadores do samba moderno carioca. Seus sambas tinham letras inteligentes, divertidas, com uma musicalidade mais complexa que as tradicionais marchinhas de carnaval. O filme, todavia, estraga tudo. Mostra um Noel estereotipado. As cenas são mal montadas, artificiais. A única coisa boa do filme é a Camila Pitanga, que está linda, maravilhosa e, o que deve ser muito difícil num filme com tantas deficiências, competente.

Um curta muito bom foi Acossada. Criativo, elegante, charmoso, divertido. Dirigido por Karen Akerman e Karen Black. Pra mim, merece prêmio. Dá pra ver no Porta Curta, por aqui.

Leia mais resenhas no Blog da Miroir.

Nos bastidores do Festival do Rio

Lá estava eu, atacando pela esquerda e pela direita, que nem o PMDB. Copo de uísque na pata esquerda, long-neck na direita. Ou seja, quase feliz. Digo quase, porque havia um bate-estaca no fundo que eu tentava heroicamente ignorar.

Vamos ao começo. Cheguei na Casa de Cultura Laura Alvim, em Ipanema, onde rolava a festa de lançamento do filme Céu de Suely, por volta da meia-noite, acompanhado de: minha ex-secretária, agora patroa e ídola, Priscila, Justo Dávila, poeta, ex-membro da banda Boatos, e sua consorte, Mariana. Os primeiros momentos foram tensos. Havia uma fila absurda para pegar cerveja. Pior, a fila era para pegar uma ficha para pegar cerveja em outro lugar. Burocracia burra. Mas tudo bem. Fomos pra fila, eu e o Justo, conversando e reclamando. Fila pra cerveja é foda.

Depois de meia hora de fila, a gente quase na caixa, uma garota nos diz que ali não era a fila da cerveja grátis, ali era pra COMPRAR. Escutei a informação perplexo. O Justo mandou essa: a fila é para a gente SABER QUE A CERVEJA GRÁTIS É NOUTRO LUGAR. Caralho, não deu. Explodi de rir. Fiquei descontrolado legal, chorando de rir.

Mas aconteceu que as garçonetes se distraíram e liberaram três long-necks pra gente. As coisas começavam a melhorar. Fomos até a boate e entramos no bate estaca. Eu devia estar louco. Ainda tentei dançar aquela merda. O Justo dançava amarradão, o vendido. A Pri, vendo minha expressão de desespero profundo, fez um lobby pró-rock n'roll com o DJ. O cara era jogo duro. Disse que só ia rolar aquele lixo a noite inteira. Nem tinha trazido outros cds. Puta que pariu. Deu vontade de xingar e esganar o cara.

Saímos dali e, por um tempo, ainda fiquei de mau humor com aquele bate estaca, mas tinha muita gente boa circulando. Topei com Marçal Aquino e Renato Ciasca (co-diretor dos filmes do Beto Brant), e fiquei observando a elite do cinema brasileiro bebendo e trocando idéias. Estavam lá Marcelo Gomes, diretor de Cinema, Aspirinas e Urubus (escolhido pelo Ministério da Cultura para representar o Brasil no Oscar), Lírio Ferreira (diretor de Baile Perfumado e Árido Movie), Walter Salles, além do Karim Aїnouz, diretor do filme da noite, Céu de Suely.

Muito bom filme, esse Céu de Suely. Bom mesmo. Sensível pra cacete, autêntico, cinemão. Só fiquei profundamente decepcionado mesmo com o Karim por (ele confessou pra Priscila) ele ter escolhido aquele merda de DJ.

Mais resenhas de filmes exibidos no Festival do Rio

Estão lá no Blog da Miroir.

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Ei, isso é lindo. Jimi Hendrix tocando Like a Rolling Stone. Agora, uma dica, dá também uma lida na letra do poema, autoria de Bob Dylan.

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Dica de Blog: mais talento na blogosfera. Marcelo da Silva Duarte fala de política com elegância e bela prosódia, coisa rara em tempos de radicalismo eleitoral e grosserias ideológicas. Dê uma boa noite pro porco.

Tapa na pantera

Dá não. Planejava eu, ingenuamente, escrever um resenhão pra cada filme, tipo aqueles do Contracampo. Mas eles, da Contracampo, são muitos. Eu sou um só - pelo menos ainda não descobri meus outros eus por aí. O negócio é que a gente acaba vendo um montão de filme e não dá tempo de analisar, pensar e fazer uma resenha genial pra cada um. Deixa quieto. Podem ir lá na Contracampo mesmo. Tentei ser sério, metódico e enérgico, e fracassei. Quando chegar aos sessenta, quem sabe? Depois que inventaram o Viagra, beibes, nós homens vamos longe!

Bem, primeiro um grito de independência - para patentear o meu nível de amadorismo, desculpável talvez por ser deliberado. Vou publicar aqui! Já é um puta trabalho manter a meia dúzia de leitores deste blog, e agora você quer, mon amour, que eu publique meus textos no blog da Miroir? Não é questão de ser ingrato. Só porque, graças a você, ganhei credencial pra assistir todos os filmes? Só porque ganhei convites para todas as festas? Só porque você faz beicinho e dá beijinho? Ã?

Se deixar, o cara vira um lacaio da mulher. Ô bichinho autoritário, mulher. Dizem que Pedro I deu o grito de independência depois de levar um esporro: "vai logo lá, na beira daquele rio barrento, e dá a porra do grito, seu molóide", teria dito dona leopoldina-ou-seja-lá-qual-seja-o-nome-da-bigoduda.

Mas, se não formos nós, quem irá trocar as lâmpadas, abrir as latas de picles, instalar chuveiro elétrico novo, héin?

Corta! Corta! O papo aqui é cinema. Não tá na hora de fazer piadinha sem-graça e batida sobre a decadência do macho.

Vi um filme boliviano muito bom. Pobrinho, sem recurso nenhum. O cara deve ter gasto uns dez reais pra fazer. Todo digital. Cenas improvisadas. Muitos atores não profissionais. Mesmo assim, um filme bom, ousado, verdadeiro. Título original: Lo más bonito y mis mejores anos. Obviamente, os malucos que fazem tradução de título no Brasil tinham que dar seu tradicional pitaco infeliz. Ficou "O mais belo dos meus melhores anos". O diretor, tadinho, um belo mancebo de 26 anos de longas melenas cacheadas, tez morena e sorriso cativante (novamente, perdoem-me a viadagem, mas tenho que inspirar meu público feminino. Não quero só barbado catinguento lendo meu blog), o diretor procurou explicar que o título original consiste em duas orações independentes. Os tradutores, só de sacaganem, trocaram o "y" pelo "dos", como se não fosse nada. Imagina esses caras numa guerra? Seria o desastre. Lembro da minha professora de português contando a história do mensageiro que esqueceu de anotar uma vírgula na nota que entregou ao general romano. O general enviara uma pergunta ao imperador. "Devemos atacar agora os inimigos?", foi a pergunta. O general romano comandava um exército de 40 mil homens. Os inimigos tinham outros 40 mil. O imperador respondeu. "Não, recuem". O mensageiro esqueceu a vírgula e transmitiu: "Não recuem". O general perdeu 20 mil homens, a batalha e a vida.

Ai, essas digressões me matam. Ainda estão aí? Continuemos. O jovem diretor, quando terminou o filme, estava nervoso, sorriso preso. As palmas foram escassas e discretas. É um filme, dizia, tão pobrinho de recursos. Agora entendo porque os bolivianos acham que o Brasil é imperialista. Comparado com eles, nós somos mais ricos que os Estados Unidos. O PIB da Bolívia, já disseram, é menor que o da cidade de São Paulo - embora isso não signifique muita coisa, pois a população também é menor, 8 milhões de habitantes, e São Paulo é a cidade mais rica do Brasil.

Enfim, o diretor se chama Martin Boulocq e disse que, de uns anos pra cá, e média de produção de filmes na Bolívia pulou de 1 por ano para 5 a 8 por ano. Nem contei a história do filme, mas deixa pra lá. A história não tem tanta importância assim, é um filme mais artístico, visual, com boa trilha sonora. Tipo do filme que crítico gosta, mas não tem público. Achei corajoso o filme, mas bem que a câmera podia ser mais firme e a qualidade da imagem um pouco mais nítida. Parece que o cara filmou com a câmera mais vagabunda da praça.

Assisti também ao The wind that shakes the barley (ainda não traduzido, vamos ver que monstrengo vai sair disso em português), do Ken Loach. Hum, é um filme bem feito, mas acho que o público alvo é a galera de centro acadêmico das faculdades de história - e os críticos de Cannes, que o premiaram. O Ken Loach tá se repetindo. Gostei de Terra e Liberdade, Pão e Rosas, Meu Nome é Joe, mas esse aí ficou meio clichê. Os ingleses malvados. Os guerrilheiros heróis. Sei lá, me pareceu meio passado. Bem feito, mas piegas.

Vamo lá. A Comédia do Poder, de Claude Chabrol. Muito bom. Estilo francês, seco, tradicional, planos convencionais, roteiro excepcional, diálogos perfeitos.

(Tô ficando mais sucinto porque está tarde, meu braço tá doendo. Mas quero ir até o fim. Quero falar de todos que eu vi).

Edifício Yacoubian, filme egípcio pra exportação. Excelente. Bons atores, mas muito for export pro meu gosto.

Man Push Cart - do caralho. Iraniano se fudendo em Nova York. Meio tristonga, sem um final surpreendente, mas du caralho, como diz o Bortolotto. Os críticos profissionais, inclusive da Contracampo, estavam todos lá assistindo, anotando. Deve ser bom mesmo.

La Montaña Sagrada, de Alejandro Jodorowsky. Filmado em 1973. Puta que pariu. Loucura, mêu. LSD total. Simbolismo totalmente maluco. Muito bom. Louco, louco. Nem dá pra explicar. Só vendo. O cara exagera talvez. Mas nunca vi nada parecido. É camelo junto com mulheres nuas. Rinocerontes, tigres, criancinhas pintando a bunda nua dos outros. Cristo enchendo a cara. Esse a galera (a galera, não o Galera, o escritor) vai gostar. Parece um pouco cansativo no início, mas vai crescendo, vai inovando, cada hora um absurdo diferente, tudo com muita plástica. Influência óbvia do surrealismo. Vale até dar um tapa na pantera antes de assistir. Digo, vocês, que eu não faço mais essas coisas. (opa! aqui quem fala é o juiz federal Pinto Nino, o que você quer dizer com isso, Miguel? por acaso está incentivando... Não, não juiz. Tapa na pantera significa o cara fazer meditação transcendental alfa budista, de forma a ampliar os canais de percepção... etc, aquele filme do Youtube é que deturpou o sentido original da coisa. Ah, então tá, não vou mandar censurar seu blog, dessa vez passa, mas cuidado!).

É isso, por enquanto. Tem muito filme bom a partir de amanhã. Volto com novidades.

Ressaca braba


Ontem fui ao show do Mundo Livre, no Circo Voador. Massa, rei. Acordei com desesperada dúvida existencial. Estarei vivo? Em caso afirmativo, em qual das minhas encarnações? Qual país, qual ano, qual bairro? Será que as eleições já passaram, o Alckmin ganhou e o Brasil se tornou ético, sério e com taxas maravilhosas de crescimento econômico? A resposta repousava, como sempre, numa latinha de coca-cola, na água fria sobre o rosto e na contemplação cética da minha ironia proto-anarquista.

Mas eu vim aqui dar uma informação importante. Minhas resenhas sobre o Festival do Rio estão sendo publicadas no Blog da Miroir. O negócio ainda está esquentando. Però faccia attenzione: não sou autor exclusivo do blog. As minhas estão assinadas no final.

É isso. Sem condição, no momento, de falar muito.

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Da série exercícios grátis de italiano:

- Cosa c'è da bere? C'è dela birra e del vino.



Pronúncia: Cosa tché da bere? Tché dela birra e del vino.
Tradução: O que há para beber? Há cerveja e vinho.

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Eterno Raul.

Três notas

Ontem começou o Festival do Rio, com o filme Dália Negra, de Brian de Palma. Bem mais ou menos o filme. Tem todo aquele luxo hooliwoodiano, o clima "las vegas final dos anos 40". O pacote completo: policiais corruptos, mulheres fatais com passado obscuro, políticos venais e empresários inescrupulosos. O clichê excessivo mata o filme. A trama é interessante, mas confusa, difícil de acompanhar.

De Palma é um diretor irregular. Dirigiu o clássico Scarface, aquele que termina com Al Pacino cheirando uma montanha de pó, mas também fez porcarias inomináveis como Missão Marte e Femme Fatale.

A festa aconteceu no Cine Palácio. Para quem estava acostumado com o fausto dos anos anteriores, o evento foi fraquinho, mas não sou eu que vou reclamar aqui do uísque que bebi de graça. Bem, reclamo sim. Faltou champagne e vinho pras mulheres... A música no salão era fraca, sem novidades. O melhor que tocaram foi um Chico Science meio batido, um Boys Dont Cry, do The Cure, que lembrou minha pré-adolescência, mas depois descambaram para o Dance Music, o que foi a minha deixa para abandonar o recinto.

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Uma palavrinha sobre Pergunte ao Pó, de Tom Cruise: bobinho. Outra palavra: ruim. Um filme inteiro ao crepúsculo. Isso mesmo, o filme inteiro com os raios do sol descaindo, obliquamente, cor dourado-escuro, sobre as ruas e desertos da Califórnia. Muito bonito no início, mas enjoativo ao se repetir ao longo do filme. A atuação do Colin Farrel é medíocre, mas passável. O pior do filme fica por conta de Salma Hayek. Deturparam a história com aguinha e açúcar. Trilha sonora vazia. Filme chato.

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Finalmente, consertei o driver de som do meu computador. Sou um cara mais feliz. Pra começar, escuto a rádio onde trabalha meu amigo Jorge Ferreira. Aqui. Também posso agora curtir um pouco do You Tube.

Devolveram o herói

Opa, isso merece um post. Mirisola lançou um blog. Já estreou rasgando todas as regras do bom comportamento social do escritor. É um caso que merece reflexão, o Mirisola. Sua verve diabólica, canalha e libertária, simplesmente não encontra espaço na imprensa tradicional. Ele tá revoltado, com toda a razão. Eu tô revoltado há muito tempo. Mas eu não conto, porque eu não sou ninguém. Quer dizer, sou um escritor relativamente conhecido na web, o que significa lhufas, já que existem outros dez mil na mesmíssima situação. Escrevi um conto ou outro interessante, algumas crônicas boas, umas resenhas originais, mas fundamentalmente eu sou um escritor - digamos - em plena florescência (com perdão da viadagem). Estou vivendo minha obra. Sofrendo pra caralho, mas com muito amor e entusiasmo - e o desespero decorrente, é claro.

Eu tava falando do Mirisola, que lançou um blog, surfando numa contra-onda. Bem, o que eu posso dizer é o seguinte, meu chapa: bem vindo ao inferno. Sua literatura abriu porteiras, tá certo, mas tome cuidado, porque, tradicionalmente, os pioneiros sempre se ferram. Quem se dá bem são os que vem depois, encontrando o caminho já pavimentado, com flores nas laterais e a devida escadinha de mármore ao sopé da mansão do sucesso...

O negócio é que a imprensa escrita se tornou uma insossa perfumaria, e não pode desagradar o homem "médio", aposentados, militares, funcionários públicos, os que caras que ficam horrorizados com as declarações de Paulo Betti sobre a ética, bobinhos, bobinhas e agentes da CIA. É a velha história da indústria cultural. Qual o problema? Nos Estados Unidos tudo dá certo, não é? Os escritores são tão felizes nos EUA. Eles lidam bem com a crítica e ganham rios de dinheiro. Além do mais, os escritores americanos são melhores em tudo, não é?

Para falar de Mirisola é preciso inventar um novo conceito: a Dialética do Despeito. O João Filho, que eu conheci em Salvador, havia inventado a Estética do Perrengue. Ele me contou que estava há quatro dias sem comer antes de ser transladado com honras para a Flip. Agora, tá lá em Salvador esperando outro convite. Como cê tá meu chapa? Voltando ao despeito mirisolástico. Repito, o caso Mirisola merece atenção, porque estamos diante de uma situação constrangedora para o país. O Ademir Assunção acha que precisamos de política de Estado, incluir a palavra Literatura não sei aonde. Distribuir bolsas para escritores. Quer saber? Até que seria uma boa. Mas no Brasil, sei não... Não tem clima. O Caetano não ia deixar. Melhor esquecer. Devo estar errado nisso também, porque eu sempre estou errado nesse tipo de coisa. Consegui vencer o lacerdismo materno, mas o pessimismo de missivista do jornal O Globo, esse não me larga.

A culpa de tudo é do Luciano Huck. Caras como ele poderiam ajudar a solucionar muita coisa. Se ele fizesse propaganda de literatura no seu programa, as vendas de ficção aumentariam vertiginosamente. Hã? Tô falando bobagem? Claro que tô. Eu lá tenho solução? Como todo mundo, estou lutando pela sobrevivência e, em última instância, já me basta salvar a própria pele. Quer dizer, eu escrevo artigos políticos, mas até isso é por interesse próprio, para desopilar o fígado, me vingando de crápulas como Miriam Leitão e Merval Pereira, que me atormentam há anos tentando me empurrar sua opinião globista goela abaixo. Por outro lado, hoje em dia, eu até gosto deles. Eu os amo. Eles me inspiram. Esse ódio, percebi só agora, é fundamental na minha vida. Tenho ficado semanas sem escrever por conta da falta de ódio. Esse é outro conceito importante da Dialética do Despeito, teoria estética cujo maior representante é Marcelo Mirisola.

A única coisa boa que posso falar é que essa imprensa escrita está em crise, e a web não pára de crescer. A venda de computador tem aumentado uns 200% ao ano. Melhor ficar atento a isso, meu caro Mirisola. Indo ao que interessa, internet vai dar dinheiro no futuro. O problema é a lógica da quantidade, que não vale pra literatura.

(Digressão. Fico puto com esses colunistas de jornal, com tiragem de 2 milhões de exemplares, que dizem em suas crônicas: meus dois ou três leitores... blá blá. Ei, são uns mentirosos! Quem tem dois ou três leitores sou eu! E não tenho orgulho nenhum disso. Mas fazer o quê?)

Na literatura, o que deveria valer é a qualidade. Se um patrocinador quisesse bancar meu blog, deveria ser porque ele identificou talento por aqui e resolveu dar uma de mecenas. Taí. Boa idéia. Blogs patrocinados. Empresas patrocinariam blogs e teriam desconto no imposto. Que nem fazem pro cinema. Mas sem burocracia, pelo amor de Deus! E sem impor cotas de quantidade de acesso! Bastava ser aprovado por uma comissão civil criada somente para isso e pronto. A empresa que quisesse patrocinar é que cuidaria da papelada toda. Vejam como sou prático às vezes. É que eu levo à sério essas coisas, cara. Minhas opções também estão se estreitando...

Hum... pensando melhor, a idéia não é tão boa. Porque as empresas só patrocinariam os blogs de seu interesse. Blogs bem comportados. Peraí... Só se... as empresas bancassem os blogs através de renúncia fiscal (ou seja, o governo banca, mas seria uma solução provisória até termos um mercado literário mais pujante), mas seu logo não ficaria exposto no blog. Ficaria apenas a chamada que o blog X era patrocinado pela Lei Y, que prevê renúncia fiscal a empresas que patrocinam blogs literários.

Gosto de idéias que resolvem problemas de falta de dinheiro. Essa solução poderia, se eficazmente implementada, gerar milhares de patrocínios de blogs. Aaammm.... tô com sono, amanhã vou reler esse post para corrigir e, a depender da minha avaliação matutina, até apagar tudo que escrevi. Outra vantagem da internet. Eu posso corrigir, incrementar ou deletar meus textos. Leiam com atenção, porque esse post pode ser condenado à morte.

Variados assuntos

Imagino que os frequentadores deste blog são interessados em literatura. Caso contrário, não sei o que estão fazendo por aqui. Mesmo assim, são todos bem vindos. Sempre há tempo de aprender a viver. E nisso consiste, na minha opinião, o valor essencial da literatura: tornar a vida mais interessante. Viver mais intensamente.

Queria falar um pouco sobre bebida. Penso que, às vezes, alguém pode pensar que eu bebo demais. Que sou um bêbado decadente. Não é bem assim. Decadente eu sou mesmo. Bêbado também. Mas tem um porém. Na verdade sou bastante disciplinado. Como sei que, se sair, vou beber, e beber bem, então eu procuro sair o menos possível. Ou seja, sou um cara caseiro. Em casa não bebo. Tomo café, viajo na internet e leio livros. É uma obsessão esse negócio de livro. Quase um vício. Mas é melhor que crack ou cocaína. EU ACHO.

Ontem quase fiquei maluco andando pelos sebos nas adjacências da Praça Tiradentes. Comprei Café na Cama, do Marcos Rey, e Complexo do Portnoy, do Philip Roth, 3 reais cada um. Depois atravessei a rua e entrei num outro sebo. Não tinha mais dinheiro. Mas tinha o cartão. As estantes de literatura eram no segundo andar. Passei a vista e fui juntando o que me interessava: Um outro livro de contos do Philip Roth; um de contos de Arthur Clark, papa da ficção científica; e a Trilogia de Nova York, de Paul Auster.

Infelizmente, não tinha mais nada na conta. O cartão foi recusado. Voltei pra casa um pouco triste, mas tá tranquilo. Tem muita coisa aqui na estante pra ser lida. Terminei de ler esta semana um clássico da ficção científica, Fundation and Earth, de Isaac Asimov. É incrível como o cara conseguiu escrever uma história que se passa uns cinquenta mil anos no futuro. História muito bem construída, gostosa de ler. Faz você viajar pelo tempo, pelo espaço! Você esquece um presente que, à exceção das horas de forte intensidade existencial - como o horário eleitoral gratuito e o programa de venda de tapetes do canal 6 -, nos parece tão enfadonho.

Acho que sou melhor leitor que escritor. Por preguiça. É muito mais confortável ler do que escrever. Ainda mais literatura. Já li muito filosofia, história, política. Mas nos últimos anos só tenho saco pra literatura. Só curtição. Arrumei um trabalho tranquilo, que me dá bastante tempo livre, e pronto. Ser casado ajuda também. Quando era solteiro, perdia as noites correndo atrás de mulher. Tinha seu lado bom, é claro, mas organicamente era negativo, porque um homem solteiro na noite da Lapa não desenvolve hábitos saudáveis.

A blogosfera literária está melhorando. A primeira geração se aposentou. Talvez não aguentassem o tranco de hoje, a competitividade acirrada entre tanta gente talentosa. Os radicais, à direita e à esquerda, se radicalizaram ainda mais e se tornaram anacrônicos. Exemplo de novos blogs bons? Vejam o Marconi Leal, link ao lado. Acho que a internet ainda tem muito a oferecer à literatura no Brasil. Num país com extensão continental, estradas precárias, editoras pobres e custos de produção de livro elevados, a internet surge como uma excelente oportunidade para as pessoas acessarem a nova ficção tupinambá.

Claro que ler na tela do computador não é tão bom como ler um livro impresso. Mas as pessoas estão se acostumando também com isso. Esse negócio de Orkut, MSN, sites e blogs, fazem as pessoas ficarem tanto tempo diante do monitor, que os olhos acabam se adaptando.

Mais fotos do lançamento da Miroir no Cine Odeon


fazendo uma pausa para respirar (priscila, natasha, diana e maria) - para entender essa foto, ver uma das primeiras da sequência abaixo


baronesa Camilla Lopes e barão Mirisola, no pós lançamento

Justo saboreando e eu dando duro como DJ e barman (vida de marido de editora não é mole, rapá!)

Priscila e Natasha, editora e fotógrafa oficial da Miroir


a convidada mais importante da festa, senhora cachaça Magnifíca

a Dira Paes também ficou ligada na Miroir

A festa

as meninas comemorando a chegada da revista

a partir da esquerda: maria, mirisola, natasha, priscila, diana, miguel (eu) e o bortolotto


Lá fomos nós, eu, Diana e o fusquinha branco, para Bonsucesso. Pegamos a perimetral, entramos na Avenida Brasil, prosseguimos uns quilometros e entramos à direita. Bonsucesso é um dos primeiros bairros cortados pela Brasil. Nosso destino: a gráfica Walprint, onde a nova edição da revista Miroir estava sendo finalizada.

A revista não estava pronta. A Diana e o fusquinha voltaram para o Cine Odeon e eu fiquei na gráfica, esperando. Uma hora e meia depois, conseguiu-se aprontar um lote de 175 exemplares e eu entrei no táxi que já estava me esperando na rua, chegando ao Odeon exatamente às 21:45, a tempo de pegar as pessoas aguardando ansiosamente minha aparição.

Foram distribuídas doses de Magnífica ouro e vinho branco. Compareceram diversos amigos, entre eles o nosso querido Mario Bortolotto. Presente ainda o barão da praça Roosevelt, Marcelo Mirisola e sua baronesa, Camilla Lopes, e muitas outras pessoas interessantes.

A revista ficou muito bonita. Não é porque ela é minha esposa, mas a Priscila é realmente uma garota extraordinária. Se eu posso dizer, com orgulho, que muita coisa do que ela sabe eu ensinei, também devo afirmar que, definitivamente, a aluna superou o mestre. Esta nova edição será distribuída no Festival do Rio, e tem um conteúdo que destoa totalmente de qualquer revista do tipo que tem por aí. Tem contos, crônicas, resenhas, matérias, além de magníficos ensaios fotográficos (uma das modelos é a atriz Fernanda D'Umbra).

Depois do Odeon, fomos todos para a Lapa, comer frango a passarinho e molhar mais um pouco as cordas vocais. Quem quiser um exemplar da revista, terá que vir ao Festival do Rio. Ou então enviar um email para editora@miroir.com.br, solicitando um exemplar. Em tempo, estaremos fazendo a cobertura do Festival do Rio, através do site www.miroir.com.br, o qual ainda está em construção. Mas por este blog você se mantém informado.

Tá chegando a hora

"A forma mais ínfima da vida é a ameba. Daí surgiram os grandes homens", Millor Fernandes

O Festival do Rio de cinema está chegando. Hora de começar a azeitar as máquinas. Treinar um pouco a arte de resenhar filmes. Até porque a Revista Miroir, editada pela Priscila, está super-cadastrada para participar do evento. Será lançada uma edição no dia 21 de setembro, junto com a abertura do Festival. Meu objetivo este ano é beber menos e escrever boas críticas, senão profundas e precisas como as da Contracampo, pelo menos suficientemente originais e divertidas para justificarem sua existência.

Comecemos de leve, brincando apenas, para desenferrujar. O título do filme - Fahreinheit 451 - corresponde à temperatura a partir da qual os livros pegam fogo. Bombeiros de um futuro indefinido agem como uma espécie de polícia anti-literatura. Acionados por denúncias anônimas, realizam buscas minunciosas nas casas dos acusados e encontram livros no interior de aparelhos de tv, dentro de torradeiras e em toda espécie de compartimentos secretos. Juntam os livros num bolo e os carbonizam com lança-chamas.

Oskar Werner, que já ficara imortalizado por Truffaut em Jules e Jim, é o protagonista da história, um bombeiro anti-livros que começa a se interessar pelos objetos proibidos. Baseado na obra-prima homônima de um dos maiores nomes da ficção científica norte-americana, Ray Bradbury, o longa de Truffaut foi rodado em 1966. O argumento do filme, apesar de preservar ainda hoje algum valor metafórico, parece meio forçado, inverossímil. Não li o livro, que certamente deve conter muito mais elementos (e portanto mais verossimilhança e coerência) que o filme. Nessa mesma linha, prefiro 1984, de Michael Radford, baseado no livro homônimo de Orwel, protagonizado por Jonh Hurt e Richard Burton.

Aliás (informações atualizadas da bolsa carioca de livros)

Bradbury também possui um livro de contos fabuloso, Remédio para Melancolia, o qual, por uma feliz coincidência, acabo de adquirir num sebo da rua do Catete, por R$ 5. Também comprei hoje, num outro sebo, na Glória, Lições de um Ignorante, de Millôr Fernandes, por R$ 1; e um livrinho de críticas literárias de Machado de Assis, muito instrutivo, por R$ 7.

Em suma, não há suma (como diz Millôr).

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