Terrorismo

o sol nasce verde às vezes
mortos estão os pássaros
que antes tão atrevidos cantavam
estamos a sós com o monstro
em forma de menino
de olhos verdes, azuis, lilás
conforme a cor do céu
e vomitamos sangue

mas o sangue é verde
e eu grito
você grita
ouve-se tiros ao longe
a ambulância chega
sua luz é verde
o enfermeiro também é verde
e chora ao nos ver
deitados sobre uma poça
de sangue verde

o menino se aproxima
mata o enfermeiro
com um tiro na cabeça
o sol verde chega ao zênite
explode sobre o mundo
a luz branca cega tudo
os repórteres começam
a tirar fotos

Oração suja

Que importam os céus sujos de sangue
se a dor não chove há tempos
e a terra está seca, branca,
esperando um desespero
qualquer que a fecunde?

E se os homens orassem,
contritos, suplicando perdão,
porventura choveria?
Não... os céus são duros,
implacáveis em sua ira
e os homens cometeram
um erro terrível:
estupraram e mataram
as filhas de Deus
que se banhavam, nuas,
na fonte de água azul.

Mas eu, eu não tenho nada a ver,
e, no entanto, sobre mim,
abre-se também o olho vingativo
do anjo do Senhor.
Por isso, eu louvo
os céus sujos de dor
para que minhas filhas
não morram à noite,
desnutridas de amor.

Os condenados

No verão ocorreram os piores dias que passei no inferno. Mas no começo, quando cheguei, caído de um precipício no qual uns demônios me lançaram por diversão, achei tudo muito bonito. Havia flores e um sol forte brilhava no meio do céu azul. O gordinho de óculos, carregando um pedaço de computador embaixo do braço, estava lá, e me sorria. Reconheci-o como editor de um site cultural, e perguntei o que ele estava fazendo lá. Ele não respondeu. Encarava-me com ar estúpido. Um outro rapaz que passava, nesse momento, vendo-me fazer perguntas ao gordinho, intervém, educadamente. "Ele não fala, nem escuta", informou. "Ué, por quê? Logo ele, que falava tanto...", perguntei. O rapaz, que pelo jeito, era bem informado, explicou-me que esse era um de seus castigos, porque falou muito e muita besteira durante a vida. Como não havia escutado nada do que diziam seus contemporâneos, também fora condenado à surdez. "Mas ler ele pode, não?", indaguei, intrigadíssimo. "Bem, não exatamente... Ele carrega no bolso um livro do Rubem Fonseca, traduzido para o chinês. O negócio é que toda a vez que ele abre o livro, toma um choque elétrico terrível", disse o rapaz.

Deixei o gordinho ali, com seus estranhos castigos, e continuei a andar, aflito por saber quais seriam os sofrimentos que ali me esperavam...

Confins

No inferno, ao contrário do que imagina o vulgo, também faz frio. A estação fria do inferno começa em setembro, se estende por quatro meses, quando um calor ígneo irrompe furiosamente em toda a "nação vermelha", conforme o jargão de alguns deuses da periferia.

Às vezes, eu tinha um braço ou perna arrancado pelos demônios de segunda classe, responsáveis pelas torturas mais leves, somente físicas. Os membros crescem novamente, como se sabe, pois a morte não existe no inferno e, portanto, o corpo se regenera de todo ferimento.

Num dia de sol (um sol verde, bizarro, que provocava fortes náuseas), deparei-me com um sujeito gordinho, de óculos, cara de cachorro chupando ovo, segurando um peça de computador embaixo do braço.

Sugestões para uma nova política literária

Delicadíssimo, como sempre, escrever sobre literatura. Mas é necessário. Ainda mais após a divulgação, durante a Bienal do Livro, no Rio, de que a maior parte dos municípios brasileiros não possui nem UMA livraria. E uns quarenta por cento não tem nem biblioteca pública.

Como é que a indústria do livro pretende aumentar a vendagem no país com um quadro desses?

Aliás, como é que os escritores podem conviver com esses números com tanta passividade?

Por quê não gritam, não ocupam os espaços dos jornais, revistas, sites, e denunciam, com argumentos poderosos, o prejuízo que isso acarreta para o nível cultural do país?

Que nova literatura poderá vingar num país onde um percentual ridiculamente minúsculo tem acesso ao que se produz de novo? O resultado é que uma "inteligentzia" altamente duvidosa acaba por monopolizar o discurso estético no país. Acontece com as artes plásticas, acontece com a literatura, os dois segmentos que demandam um consumidor mais intelectualizado. Mas no fundo, não é a "inteligentzia" que está errada. O que acontece é que ela está sozinha, e esse isolamento a torna egoísta.

Há também um certo comportamento mesquinho por parte de escritores e produtores de arte. Diz-se que há escritores demais, como se isso fosse negativo. Na verdade, isso é muito bom. Naturalmente, muitos vão comer o pão cuspido pelo demo, mas a quantidade se convertará em qualidade, na medida em que a própria competitividade obrigará à elevação do nível de todos.

Nos anos 70, não haviam tantos escritores. E muitos "medalhões" daquela época, talvez fossem apenas mais um entre tantos jovens talentosos que vemos emergir aos milhares nos sites de literatura.

A displicência que alguns acusam na literatura brasileira contemporânea é uma denúncia vazia, reacionária. As novas tendências literárias que se delineam no país beberam na rica fonte da literatura despojada, desburocratizada, de dezenas de autores que, se até os anos 70, eram conhecidos por uma minoria entre as minorias, agora foram amplamente assimilados pela juventude brasileira.

E quando digo juventude, me refiro a todo produtor cultural de mentalidade jovem, que continua querendo inovar, que não se estagnou numa atitude blasé e auto-suficiente. O escritor jovem é aquele que continua desesperado, angustiado, para dizer alguma coisa de verdadeiro, de autêntico, de juntar algumas frases que sintetizem a beleza rude, transcedental, misteriosa, desse país onde os sabiás não cantam: fogem da polícia.

Claro que, se há jovens que desafiam impetuosamente as maiores dificuldades, e prosseguem sonhando em fazer arte, também existem segmentos reacionários, que ingressaram no mercado de arte como quem faz carreira numa profissão burguesa. Como era de se esperar, fazem um tremendo sucesso. Desde séculos, os oportunistas se dão bem, ou tentam se dar bem. Faz parte da vida. Aos poucos, eles vão sendo desmascarados.

O grande problema é: a literatura brasileira está sufocada com a falta de novos leitores. O país é grande, teria capacidade de aumentar em duas, três, quatro vezes, o número de consumidores de livro. Recentemente, um grupo de empresas ligadas ao mercado editorial (grandes editoras, livrarias) conseguiu arrancar do governo, via BNDES, uma boa verba para financiamento. Basta isso? Quer dizer, claro que é importante que as editoras se fortaleçam, cresçam. São elas, no fim das contas, que imprimem livros, bancam o marketing e a distribuição das obras.

As livrarias protestaram que o pacote do governo não atendeu seus interesses. E o maior problema é que faltam livrarias nas pequenas e médias cidades do país. Mas acho que se o governo liberar dinheiro para as grandes, elas vão pegar a verba e construir mais super-lojas nas metrópoles.

O governo deveria, então, liberar financiamento para pequenas livrarias, com proprietários locais, nas pequenas cidades brasileiras. E ajudá-los de todas as formas possíveis.

É preciso que medidas sejam tomadas para ampliar o número de leitores no Brasil. Qualquer aumento seria uma injeção de oxigênio no mercado editorial. E de ânimo nos jovens escritores, já que veriam reduzido o poder de influência de meia-dúzia de mauricinhos que posam de grandes críticos literários.

Para que medidas sejam tomadas, os escritores desse país precisam botar a boca no trambone, pressionar as autoridades, influenciar a opinião pública. João Ubaldo Ribeiro, por exemplo, em vez de ficar enganando os leitores do Globo com seu rosário de abrobrinhas, atacando os índios ou enchendo o saco do Lula por quaquer coisinha, podia contribuir um pouco para isso. O aumento dos leitores de literatura brasileira seria benéfico financeiramente para todos os escritores consagrados. Portanto, está aí uma bandeira realmente progressista, saudável, que reuniria gente de todos os matizes ideológicos.

O silêncio da morte alheia

Nasceu jurado de morte; aos dez, a primeira facada. Virou pacifista por medo. Ficou sem grana. Fugiu de casa. Quando assaltou uma editora, aos 29, sonhou, ingenuamente, com a liberdade. Aí tascaram-lhe uma enorme pedra, que por pouco não lhe rompe a espinha dorsal. Assim aprendemos a ser mais malandros. E comemos a carne deles, dos cabeça-de-porco, devagarinho...

Crítica comparada dos filmes "Bom dia, noite" e "Cabra Cega"

O cinema como ferramenta revolucionária
Por Miguel do Rosário

Dois filmes marcaram-me recentemente. Dois filmes que falam de socialismo revolucionário. De sonhos, utopias, violência. O primeiro foi "Cabra Cega", dirigido por Toni Ventura, sobre um "subversivo" escondido num apartamento, durante a ditadura militar. O segundo, "Bom Dia Noite", sobre o sequestro do presidente da Democracia Cristã italiana, Aldo Moro, dirigido pelo italiano Marco Bellochio.

São dois filmes extremamente importantes para ajudar a entender os dilemas, os fracassos, e os avanços daquilo que foi o movimento revolucionário dos últimos trinta anos. E, naturalmente, para conhecer uma das vertentes mais promissoras do cinema contemporâneo.

"Bom dia, noite" projeta uma luz terrivelmente lúcida sobre os antigos dilemas que existiam no seio dos grupos revolucionários. O ritmo do filme é magistral. Sem sangue, sem perseguições delirantes, sem explosões, consegue prender a atenção até do espectador mais viciado na turbilhonante velocidade do cinemão americano. Compensa a falta de ação com uma trilha sonora centrada nos melhores clássicos de Pink Floyd. Falei falta de ação? Entenda bem, falta de "ação" no pior sentido holliwoodiano; digo pior porque longe de mim um maniqueísmo barato e anti-americano. A história do filme é ação pura. Cinco jovens, pertencentes a um obscuro mas agressivo movimento chamado "Brigadas Vermelhas" decidem sequestrar o homem que, segundo eles, é o representante supremo do conservadorismo italiano. A história é baseada em fatos reais. Aldo Moro foi sequestrado e executado por ativistas políticos em 1978.

Entretanto, um elemento ficcional é introduzido pelo diretor e pela roteirista Daniela Ceselli, que se basearam no livro "O prisioneiro", de Anna Laura Braghetti. Trata-se da jovem Chiara, interpretada por Maya Sansa. Ela representa o lado humanitário que parece faltar aos outros jovens. Simboliza o aspecto feminino que sempre faltou aos movimentos políticos, de esquerda ou direita.

O filme gira em torno da consciência de Chiara, que trabalha na biblioteca do Ministério. Um colega de trabalho, um jovem literato com idéias românticas sobre o mundo, ajuda Chiara, através de alguns papos-cabeça, a encontrar a si mesma e a enxergar com mais clareza diversas questões políticas. A intervenção desse rapaz é crucial para a história como um todo, porque ele representa uma atitude menos sangrenta, e mais eficiente, de revolta existencial. Ele está escrevendo uma peça de teatro que se chama... "Bom dia, noite", na qual um grupo de revolucionários sequestra um político, mas uma moça, componente do bando, resolve salvar o sequestrado. É um rasgo meta-linguístico que acrescenta muito ao filme, porque nos faz ver que tudo, a história se resolve, no fim das contas, no campo da criatividade. Ao longo da história da humanidade, foi necessário muito papel e caneta para que o homem superasse a barbárie e inventasse aviões, jornais e rock n'roll.

O próprio Aldo Moro, personificado por Roberto Herlitzka, ganha bastante voz ao longo do filme. Conversando com seus sequestradores, ele explica que a sua morte irá beneficiar os segmentos políticos mais reacionários da Itália. Aldo Moro, no fundo, é um político como outro qualquer, peça facilmente substituível no capitalismo. E não foi justamente isso que ocorreu? As tendências conservadoras souberam tirar proveito da comoção nacional criada pela execução de Aldo Moro para ganhar mais poder na Itália. Daí para a eleição de Silvio Berlusconi, atual presidente italiano e grande apoiador dos EUA na guerra do Iraque, foi uma evolução natural. O grupo Brigadas Vermelhas (Brigate Rosse) foi considerado extinto em 1988.

Vale destacar a cena de um almoço familiar, com parentes de Chiara, que leva seu amigo literato, em que os senhores presentes cantam canções revolucionárias dos tempos da resistência contra o fascismo. É muito emocionante.

O filme, contudo, não é complacente com os "subversivos". O mentor intelectual do grupo que sequestra Aldo Moro é tratado de uma forma caricaturesca. Mesmo assim, é autêntico. No entanto, alguma coisa no filme, não sei bem, talvez o jogo de imagens, a própria Chiara, sempre doce e alegre, ilumina o grupo revolucionário com uma luz de compreensão. Nesse ponto, vale a pena fazer o paralelo com o Cabra Cega de Toni Venturi, que, nesse sentido, é ainda mais explícito. Em Cabra Cega, vemos quanta ingenuidade, intolerância, estupidez e chauvinismo se escondem atrás de um desejo puro, abnegado, comovente, heróico, de lutar por um mundo melhor.

Aliás, por isso mesmo, por fazer uma crítica tão importante, tão construtiva, tão necessária, aos movimentos revolucionários de forma geral, que seria absolutamente idiota acusar um filme como Cabra Cega de fazer "apologia" da luta armada, como fez aquele ancião tolo e caquético de sobrenome Passarinho.

É verdade que, ao final de Cabra Cega, os três amigos pegam em armas e, sob uma trilha sonora triunfal, escancaram as portas do apartamento para enfrentar o mundo. Uma luz branca, que nos remete a sensações de vitória, fecha a obra.

Da mesma forma que Bellochio em "Bom Dia, Noite", mas de uma forma mais apaixonada, mais poética, mais (por quê não?) brasileira, Venturi dá seu recado mais importante. Com todos seus erros, seus fracassos, sua confusão, os jovens que combateram a ditadura tiveram uma importância fundamental para o país. Não só para a democracia. Não apenas para o processo republicano. Eles ajudaram a acrescentar à nossa minguada histórica alguns capítulos de heroísmo. Mesmo estando, às vezes, errados em sua metodologia e em sua filosofia (e quão fácil é para nós, do alto de nosso conforto democrático, dizer isso), estavam certos em sua revolta, em sua indignação e em seu inconformismo.

Lembro de uma passagem de Lavoura Arcaica, de Raduan Nassar, para mim o melhor romance brasileiro de todos os tempos, e que também transformou-se num filme magnífico. Aliás, justiça seja feita. Minha lembrança vem do filme de Luiz Fernando Carvalho. Lembro do Selton Mello dizendo para o pai: "sei que estou louco. Mas sei que minha loucura tem mais sabedoria que a sua razão".

É isso. Muitas vezes, é mais sábio sermos loucos que racionais. Aliás, no "Bom dia, noite", há uma cena em que o jovem literato discute com a protagonista, Chiara, sobre o enredo da peça que ele está escrevendo. Em certo momento, ele acusa a moça (que no fundo é uma comunista sectária) de querer explicar tudo racionalmente. Ele explica que a personagem de sua peça decide libertar o sequestrado (o argumento da peça é o mesmo do próprio filme) por razões puramente sentimentais. Porque ela adquire, subitamente, um horror visceral, insuportável, ao assassinato, à execução sumária, a sangue frio, de um ser humano. E é isso mesmo que Chiara planejará fazer, ou sonhará fazer, já que o filme deixa o final meio em aberto.

Numa época em que vemos, de um lado, os conservadores americanos destruírem um país por causa de armas de destruição em massa que nunca existiram, sob o aplauso entusiástico do povo americano (não se esqueçam que Bush foi reeleito); e, de outro, terroristas invadirem colégios e matarem crianças, explodirem bombas em filas de desempregados e destruirem seu próprio país; em tempos assim, nada como um bom filme que nos lembra que, no frigir das batatas, a coisa que vale mais no mundo, é a vida, não a vida em geral, mas a vida real particular, individual, única, irrepetível.

Morte sem nuvens (mini-conto poéticol)

Daí que o céu tinha um cor de chumbo, como eu dizia a mim mesmo, sentado à mesa do Loreninha. Ou violeta, sim, o céu muitas vezes ficava violeta, e a copa das árvores do outro lado da São Francisco Xavier contrastavam seu verde profundo, sombrio, severo, com aqueles tons roxos ou plúmbeos dos céus de Vila Isabel. Eu me deixava levar pelos instintos, ali no bar, sozinho ou entre amigos. A gente se divertia. O Maurício chegava com o violão e cantávamos canções famosas e algumas inéditas, que eu e ele havíamos escrito durante aquele Carnaval em Friburgo, em 1993, antes de ingressarmos na universidade. Inesquecível carnaval... a gente escreveu umas dez ou doze canções, inspirados pela vodka e pela vista da montanha de pedra que havia do outro lado do rio, e que possuía, no cimo, uma cruz. Daí o nome: montanha da cruz.

Baixada (mini-conto)

Estávamos, como sempre, no velho botequim do seu Artur, bebendo nossa cerveja e comendo uns salgadinhos. Eram dez horas da noite. Todos estavam um pouco bêbados, eu inclusive. Aliás, no ranking etílico, eu devia estar entre os primeiros colocados, pois tinha ido a um churrasco em Magé nessa mesma tarde e tomado umas oito ou dez caipirinhas.

Mas não tão bêbado para deixar passar despercebido aquele carro de lanternas apagadas que seguia pela rua em baixa velocidade. E talvez o álcool tenha ajudado a me fazer sentir as emanações negativas que vinham do veículo. Muito negativas. Corri de volta ao bar e falei com meus amigos que o "bonde" estava chegando.

Em minha mesa e nas vizinhas, que tinham escutado, e nas outras do interior do bar, onde a informações chegou dois ou três segundos depois, o pânico foi geral, mas, num primeiro momento, ninguém gritou ou correu. Havia apenas perplexidade.

O carro parou na porta do bar e saíram quatro homens armados. Um deles portava uma metralhadora automática, com a qual ele abateu, logo de cara, umas cinco ou seis pessoas que estavam de pé, junto à entrada do estabelecimento.

Os outros seguravam pistolas e fuzis. O tiroteio começou, e a gritaria e as pessoas que estavam no interior e não podiam escapar pra fora, saltavam para dentro do balcão e se enfiavam dentro das dependências internas do bar. Dos que estavam nas mesas da calçada, apenas eu e o Ubaldo conseguimos fugir correndo em zigue-zague pela rua, os tiros zunindo em nossos ouvidos. Levei uma bala no ombro e Ubaldo no braço, mas ficamos bem.

Total da chacina: vinte e um mortos, só naquele bar.

Por incrível que pareça, na mesma noite, eu e o Ubaldo, depois de passar na Emergência do Hospital Geral de Bonsucesso, ainda fomos beber cerveja. Queríamos neutralizar o terror animal que nos dominava. É horrível sentir esse tipo de medo. Como um frango num abatedouro que, minutos antes de virar embalagem da Sadia, adquire lucidez e consciência de quem é e do que lhe vai acontecer.

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