Soneto anti-conservador

eles peidam em inglês e o fedor
se espalha como epidemia
espalhando tanta agonia
que chega até em Salvador

o trunfo deles está na cor
branca, pálida e doentia
a cor símbolo da azia
do mau hálito e do Jabor

admitamos: escrevem bem, e muito
e lêem livros e são treinados
o seu valor não é fortuito

contudo ficam assustados
com o carnaval, que é gratuito
... não se divertem, coitados...

Romance Botequinal

Des'que decidiu ser vagabundo (dois dias atrás, quando bebia sozinho num bar, algumas horas após sair do hospital psiquiátrico), José não pregou olho, ou melhor, sentia como um prego de angústia entrando-lhe no olho esquerdo, e assoava o nariz a toda hora.

Assoava o nariz e coçava o olho, de onde começava a vazar um líquido amarelo, e falava sozinho, sonhando com um osso pra roer enquanto vivesse viralatamente pelas ruas.

Seus olhos pretos (todo ele era preto, em verdade), brincavam com uma dama também preta que entrou na bodega onde ele mamava feliz nas tetas duras de uma cachaça em graça. Brincavam os olhos? Ou era o ca-cetim que tomava o cérebro de assalto, se apoderando do sentido olhal?

Que veio fazer a preitona (peituda+preta), num lugar tão sujo e escondido lá atrás da Central, na boquinha do morro da Providência? Cigarros, ela pediu e virou-se para onde o preto tava que tava, mamando e babando, pronto e tonto, com seus olhos pretos e pobres - pinguços de pé-sujo em geral são péssimos financistas. Ah!

Quem acreditaria? Não faz um ano que o preto era um próspero camelô, até que uma cacetada do guarda o deixou meio maluco e só mesmo cachaça pra pegar no tranco. Ei, ele tá falando.

- Ô pretinha, não quer cuidar do nego que tá sozinho?

Um sorriso safado explodiu no bar e os dois se casaram.

Edição semanal atualizada

O AP já está com edição nova. Tem uma entrevista com o escritor Daniel Pellizzari e textos meus. Chamo a atenção para o artigo "Sobre esquerda e direita", na qual analiso o caos babilônico que existe sobre o tema. O resto já é conhecido dos leitores desse blog. Aproveito para convocar os leitores a enviarem seus textos. É engraçado, apesar da visitação estar chegando a 500 visitas/dia, pouca gente manda texto pra gente, à diferença do que ocorre em outros sites, que dizem ficar sobrecarregados. Tudo bem, pelo menos não recebemos muita porcaria, mas sentimos falta de coisas boas. Enviem seus textos sem medo, que serão publicados com todo o merecido destaque. Enviem para esse email aqui: contato@arteepolitica.com.br.

Vai pegar fogo

Passeatas ontem (25/08) Salvador e hoje em Sampa (26/08).

o carnaval vencerá a crise

aflora-me, como dor
como vermes
de um cadáver
um poema sem lâminas
triste e sossegado
solene, contemplativo
entediado e meio louco

deflora-me, inseto
doentio e perigoso
devora-me em silêncio
nas amenas tardes
dum inverno tenebroso

as carnes não congeladas
esperam-te sobre a pia
que lhes cesse a agonia
da noite chamada dia
a noite das garrafadas
a noite da morte fria

o poema alimenta-te
mas a barriga fica vazia
corrompe-te, a poesia?
não é isso, então,
o que, secretamente,
tanto queria?

as carnes esperam
defloradas sobre a pia
o cão de tua alma
mordeu a cotovia

que se foda essa crise
que preocupa sua tia
não és tu, poeta,
que a toda hora repetia:
um país se faz matando
toda falsa poesia?
não te lembras, porventura
da maneira como ria,
o teu pai sem dentadura,
vendo o vasco que perdia?

lindos olhos
tem maria
lamentável, todavia
que divulgassem
a tal fotografia
na qual ela, nua,
masturbava-se na rua

o país se faz com livro,
gente boa e vadia,
petróleo, café e gás
e a nobre raça
do velho barrabás
enforcado lá na praça
em plena luz do dia

esse poema é anti-guerra
porque o povo da minha terra
não suporta o tio sam

o presidente nunca erra
grita o sábio quando enterra
a esperança da minha irmã

ah, meu povo,
sê feliz, o carnaval
já vai chegar de novo

até lá, toca a vida
vai tratando da ferida
e comendo pão com ovo

o desespero, que te enerva
quando acaba tua erva
e o dinheiro para a cerva,
será talvez inspiração

se o mundo não te anima
dá um beijo na menina
pega exemplo lá em cima
e termina essa canção
Com confete
e purpurina

(Tela: Basquiat)

Novae contra-ataca

Vale a pena dar uma conferida nos recentes artigos publicados na Novae. São como um contra-ataque às investidas da grande imprensa contra o governo Lula. Aqui.

Carta Testamento de Getúlio Vargas


"Mais uma vez, a forças e os interesses contra o povo coordenaram-se e novamente se desencadeiam sobre mim. Não me acusam, insultam; não me combatem, caluniam e não me dão o direito de defesa. Precisam sufocar a minha voz e impedir a minha ação, para que eu não continue a defender, como sempre defendi, o povo e principalmente os humildes.

Sigo o destino que me é imposto. Depois de decênios de domínio e espoliação dos grupos econômicos e financeiros internacionais, fiz-me chefe de uma revolução e venci. Iniciei o trabalho de libertação e instaurei o regime de liberdade social. Tive de renunciar. Voltei ao governo nos braços do povo. A campanha subterrânea dos grupos internacionais aliou-se à dos grupos nacionais revoltados contra o regime de garantia do trabalho.

A lei de lucros extraordinários foi detida no Congresso. Contra a justiça da revisão do salário mínimo se desencadearam os ódios. Quis criar liberdade nacional na potencialização das nossas riquezas através da Petrobrás e, mal começa esta a funcionar, a onda de agitação se avoluma. A Eletrobrás foi obstaculada até o desespero. Não querem que o trabalhador seja livre.

Não querem que o povo seja independente. Assumi o Governo dentro da espiral inflacionária que destruía os valores do trabalho. Os lucros das empresas estrangeiras alcançavam até 500% ao ano. Nas declarações de valores do que importávamos existiam fraudes constatadas de mais de 100 milhões de dólares por ano. Veio a crise do café, valorizou-se o nosso principal produto. Tentamos defender seu preço e a resposta foi uma violenta pressão sobre a nossa economia, a ponto de sermos obrigados a ceder.

Tenho lutado mês a mês, dia a dia, hora a hora, resistindo a uma pressão constante, incessante, tudo suportando em silêncio, tudo esquecendo, renunciando a mim mesmo, para defender o povo, que agora se queda desamparado. Nada mais vos posso dar, a não ser meu sangue. Se as aves de rapina querem o sangue de alguém, querem continuar sugando o povo brasileiro, eu ofereço em holocausto a minha vida.

Escolho este meio de estar sempre convosco. Quando vos humilharem, sentireis minha alma sofrendo ao vosso lado. Quando a fome bater à vossa porta, sentireis em vosso peito a energia para a luta por vós e vossos filhos.

Quando vos vilipendiarem, sentireis no pensamento a força para a reação. Meu sacrifício vos manterá unidos e meu nome será a vossa bandeira de luta. Cada gota de meu sangue será uma chama imortal na vossa consciência e manterá a vibração sagrada para a resistência. Ao ódio respondo com o perdão.

E aos que pensam que me derrotaram respondo com a minha vitória. Era escravo do povo e hoje me liberto para a vida eterna. Mas esse povo de quem fui escravo não mais será escravo de ninguém. Meu sacrifício ficará para sempre em sua alma e meu sangue será o preço do seu resgate.

Lutei contra a espoliação do Brasil. Lutei contra a espoliação do povo. Tenho lutado de peito aberto. O ódio, as infâmias, a calúnia não abateram meu ânimo. Eu vos dei a minha vida. Agora vos ofereço a minha morte. Nada receio. Serenamente dou o primeiro passo no caminho da eternidade e saio da vida para entrar na História."

RJ, 24/08/54

A poesia se come crua

Devoras a solidão, como bife?
ou a vomitas, como um bêbado
ao fim da noite?

a solidão é tua carne
ou a carne que cobiças
naquela churrascaria
em que não podes entrar
porque bebeste todo
teu dnheiro?

o mundo está cheio de poetas
mas tão vazio de poesia...

e se lambesses o pé do Brasil?
e se cuspisses na cara dele?

não... preserva-te, no teu canto,
esquecido e anônimo
tão longe do jô soares

quando puderes, vai ao boteco
tomar uma com os amigos
sobretudo, respeita a menina
corajosa a seu lado

brindarei contigo, irmão,
estarei lá também
para conversar sobre tudo
história, política, amor

recitemos poesia
em todos os lugares
nas salas de aula, nos bares, na rua

a poesia sem gravata
sem acessórios importados,
sem arrogância,
sem encher o saco, porra,
de ninguém


Ouça o poeta recitando este poema.

Dois poemas e uma foto do velho Buk


Um velho, morto num quarto

quando minhas mãos pálidas
deixarem cair a última caneta
em um quarto barato
eles vão me achar lá
e nunca saberão
meu nome
minha intenção
nem o valor
da minha fuga

Charles Bukoswki
(tradução de Tatiana Antunes)

Soirée

minha garrafa fica no armário
como um anão esperando para ferir minhas preces
bebo e tusso como um idiota em uma sinfonia
há luz do sol e aves enlouquecidas em todo lugar
o telefone toca derramando seus sons
pelos confis do mar revolto
bebo intensamente e calmamente agora
bebo ao paraíso
e à morte
e à mentira do amor

Charles Bukoswki
(tradução de Tatiana Antunes)


poema dela

Inferno branco

Leio proust enquanto escuto raul
Arrasada de uma noite
num inferno
sem vermelho
sem sangue
onde almas frias e sugadas
dançavam secamente
ao som da banda que é uma farsa
Bossa é bosta velha
rock rap funk
é porrada porrada
pra cansar os poetas
e fazer escorrer palavras
vermelhas rouge red
estou cansada
mas ainda assim danço
ao som furioso dos que já estão mortos.

Priscila Miranda

Nada que é de ouro pode viver

Por Robert Frost*

O primeiro verde da natureza é dourado,
Para ela, seu tom mais difícil de fixar.
Sua primeira folha é uma flor,
Mas somente por um instante.

Então, folha se rende à folha
E o Paraíso recai na dor.
A alvorada se torna dia,
O ouro morre em agonia.


(Tradução: Miguel do Rosário).
* Poeta norte-americano (1874 – 1963).

Para saber mais sobre o poeta, clique
aqui.

os romances que nunca serão escritos

eles continuam escondidos,
nas sombras ansiosas da noite
ou ofuscados por um sol ácido

os romances que nunca serão escritos
permanecem ocultos sob as feridas
que nunca cicatrizam

mas existem, os romances,
embora marginalizados
pela incompetência do artista

e brincam na memória,
como crianças que não fossem à escola

eles brincam de guerra
e, às vezes, roubam as armas de seus pais,
e matam uns aos outros

os romances que nunca serão escritos
são como putas amargas, envelhecidas,
porque venderam seu tempo e seu amor
em troca de férias pagas no inferno

os romances nunca serão escritos
mas estão vivos, podem ser vistos,
nadando nas ondas do Leme ou
enchendo a cara nos bares da lapa

jogam sinuca durante a semana,
odeiam qualquer tipo de trabalho
estão enjoados de literatura
e sonham apenas com a vida,
o amor e a liberdade

os romances não escritos
são o prelúdio trágico,
luxuoso e natural,
dos suicídios
e dos poemas


Ouça o poema recitando o poema.

Dois poemas recentes que achei nos meus arquivos

Saia vermelha

Com pé torcido, eu
A olhava, sorrindo
do acidente da véspera.

O céu não estava azul
E a gente não ia à praia

Então ela achou a saia vermelha
Eu achei um cd de blues

Dançando, ela se lançava
Num mundo de glória e sonhos,

A estreita sala do conjugado
Virou um grande salão em Holliwood,
Iluminado pela luz
Azul e verde da luminária de pano.


***

Reflexões póeticas para o fim da guerra

Desistir? Nunca.
Ou melhor, sempre.
Só os inteligentes desistem,
Voltam atrás,
E seguem por outra senda,
No entanto, não páram de caminhar.

Desistir? Depende.
Às vezes, é melhor parar
De bater a testa no concreto
E estudar a situação.

O tempo não é sempre inimigo,
E não se deve pensar a paz
de olho no relógio.

Desistir? Nunca.
O próprio andar é o destino,
A vida,
Com seu ir e vir, tropeços
E espera ingênua
Do dia negro da guerra,
Quando se acabam as dúvidas
E todos desistem de si mesmo
Para lutar por Deus ou liberdade.

Ah! A liberdade,
Dama cínica
Que se alimenta da desistência
Do homem, e do cansaço
De Deus.
Você não,
Você não desiste nunca,
De enganar os homens
Com seus mistérios metafísicos,
E jogos de palavra.

Liberdade, és petróleo ou água?
Sangue ou vinho?
És bêbada? Sóbria?
Diga quem és! De verdade!
Para que os homens parem
De se mutilar e torturar
Em seu nome.

Ou então, deixe-nos em paz,
Não mais nos empurre
Na direção do abismo
Da dor e violência.

Guerrilheiro, poeta, mercenário,
Desista sem culpa,
Mude o canal de TV,
Desarme a bomba,
Cultive lembranças
Se preferir, sonhe o futuro.

Ah, quanta vida se perde
Em metas estúpidas,
E utopias senis!

Desistir é o melhor caminho,
Pensar sem pressa,
Parar na beira da estrada
E contemplar o horizonte
Onde o sol é um olho de fogo
Que devassa as trevas d’alma.

Desista de ser escravo
De sua própria loucura,
E sonhe.
Viva.

Artigo interessante

É uma pensa que eu continue cansando meus leitores com temas políticos, mas se eu não falar disso, terei úlceras. Leiam esse artigo do jornalista Osvaldo Bertolino, do site Vermelho, sobre a situação política e a passeata de hoje, 17.

Noite agitada e produtiva

Ontem foi uma noite agitada e produtiva. Primeiramente, fomos ao ateliê do artista plástico Alexandre Alves, que inaugurou um evento a ser realizado todo segundo sábado do mês, na Lapa, rua Francisco Muratori 38. Lá recitei meus últimos poemas, publicados nesse blog, vendi alguns exemplares do meu livro, tomei umas cervejas e tive divertidas conversas com meu camarada Nilton Pinho, também artista plástico e co-editor de nossa revista de arte Serebelo. A uma pergunta minha se o artista não deveria se organizar à margem do Estado, Nilton mandou essa: "o artista tinha que ser funcionário público". Depois explicarei melhor o posicionamento do Nilton, que é diferente do meu mas nem tanto.

De lá, fomos dar uma volta na Joaquim Silva, que é o coração sombrio e palpitante da Lapa, com esperanças de haver uma roda de samba no bar do Seu Cláudio. Mas não havia nada e então decidimos dar um pulo na Festa Phunk, que estava rolando no Bola Preta, na Cinelândia, logo ali perto.

Chegamos lá às 2:20 e nos deparamos com uma festa cheia, "bombando". Demos uma idéia no segurança e entramos. Ah, antes disso, do lado de fora da festa, encontrei o Rod Britto, editor do jornal Alto Falante, que me deu um exemplar da última edição, na qual há um artigo meu falando sobre a necessidade da "mídia alternativa se unir para crescer e ganhar dinheiro". Depois eu publico esse artigo aqui nesse blog.

Dentro da festa, encontrei muitos amigos. Estavam lá o Ericcson Pires, poeta ultra-ativo e militante, que tentou me informar sobre algo que acontecia às sexta-feiras, mas com o barulho não entendi direito. Só respondi: "tá legal, sexta-feira!", sem nem saber o que era. Mas vendi um livro pra ele e juramos amor pela poesia. Soltei uma daquelas frases de bêbado metido a filósofo: "a poesia vai mudar o mundo... sobretudo o Brasil". E Ericcson, seguindo o espírito da coisa, respondeu: "e vai ser provavelmente a gente mesmo".

Depois encontrei o Dau Bastos, escritor prestigiado, que lançou recentemente um romance muito bom sobre imigrantes. Mas ele estava bastante amargurado e pessimista com a situação política e com as perspetivas literárias de sua e da minha geração. "Nós nunca vamos ser Guimarães Rosa e nos fudemos na política", foi a bomba que ele soltou e que me deixou pensativo e silencioso pelos próximos 30 minutos. Inclusive me deu a idéia de escrever um artigo entitulado: "Nos fudemos", falando sobre a situação política. O Dau estava na companhia do Leo, poeta, que está lançando um livro por esses dias. Espero entrar em contato para ir ao lançamento.

Estavam na festa a galera do Arte & Política, meu sócio-editor e amigo, Bruno Dorigatti (que arrumou recentemente um dos melhores empregos do país, repórter do Portal Literal), com a Clarissa, que faz a diagramação do jornal impresso, além de outros simpatizantes de nossa "causa". Estava também nosso grande músico, Ceará, vocalista da banda Sequelas do Povo, que sempre toca em nossas festas.

Tive vários papos-cabeça com o Bruno, como sempre. Um deles foi que a crise política é uma coisa eminentemente masculina. Sei que há uns reacionários por aí que dizem odiar homens feministas, mas eles não compreendem que nós, homens, temos mesmo é que estimular que as mulheres tomem o poder, para nós, finalmente, nos livrar dessa responsabilidade e irmos curtir a vida. A crise política foi uma grande cagada de homens. Por isso concordamos que a saída de Dirceu e a entrada de Dilma Roussef, foi uma alternativa poderosa e natural para começar a resolver a crise.

sonetos criminosos

ontem à noite, tomei um porre de cinismo
ferveu-me o sangue e matei dois,
irônicamente decidi, logo depois
estripar meu próprio pessimismo

a liberdade é moça bêbada
vagando solitária pela Lapa
à procura de quem lhe dê um tapa
por ser tão linda, e tão intrépida

ontem à noite, matei e fui fiel
a meus princípios de assassino
provei sangue com mel

e inventei nefando hino
louvando a morte, de quem sou réu,
no tribunal de meu próprio desatino

***

quem não quer estuprar a liberdade
moça nua que desfila sem vergonha,
na boca um cigarro de maconha,
mostrando a bunda pra cidade?

ela é linda, eu sei, é gostosa,
com seus enormes silicones,
jamais informou seus telefones
aos boêmios de voz melosa

não interessa, o meu amor
é como um bêbado louco
e se contenta com pouco

cada gesto dela tem valor,
um olhar, um beijo, uma carícia,
elevam-me a um mundo de delícia,

***

confesso, sou ladrão, roubo e mato,
ninguém tem nada com isso
se o governo é omisso
quem é que vai pagar meu pato?

ontem mesmo, eu sequestrei
fugazmente, uma senhora,
que pagou-me a penhora,
e depois eu a matei

moro em duque de caxias,
sou ladrão com muito orgulho
e sustento minhas tias

se morasse em ipanema
com dinheiro pra entulho
teria fim o meu dilema

***

quem diria, escritor, poeta, e homicida!
matou o pai e foi direto para o bar
beber cerveja sem pagar
pendurando a conta na saída

finge que é artista, não me engana
não passa de um vagabundo
com ganas de correr mundo
e ser metido a bacana

ele diz: "estou sendo injustiçado
não vêem que sou maluco?
Curar-me-ei em Pernambuco!"

é assassino e lê Machado,
Drummond, Pessoa, Rosa.
Sua arma é sua prosa.


Ouça o poeta recitando este poema.

Relações de Valério com Dantas e mídia

Essa notícia aqui ajuda a entender um pouco a trama política que se desenrola no país. Leiam com atenção. Marcos Valério é realmente um cara muito estranho. Recebeu milhões dos principais grupos de mídia; 160 milhões de Daniel Dantas, do grupo Opportunity. Em 2002, quando viu que Lula ia ganhar, partiu pra cima dele, comprometendo todo o PT.

E agora Lula?


Parece que o cidadão aí do lado voltou a enfrentar problemas sérios com a lei...

Deu no Ancelmo Góis: Nelson Jobim pra presidente

Notícia relevante: PMDB não vai aceitar a candidatura de Garotinho à presidência da República. O candidato mais forte seria Nelson Jobim ou Roberto Requião. Na minha opinião, os dois são excelentes candidatos. Se a candidatura Lula afundar, será uma boa alternativa para os movimentos progressistas nacionais.

Comentários sobre o Arte & Política

Meus caros, ontem consertei alguns problemas do site Arte & Política relativos aos links das edições anteriores. Também extingui minha coluna semanal Arte&Manhas, valorizando este blog, que possui agora link com destaque na primeira pagina do site. Também estou abandonando, temporariamente, o meu blog político, Óleo do Diabo, devendo concentrar todos os meus escritos aqui mesmo.

Para os leitores assíduos de minha coluna e de minhas opiniões políticas, explico que continuarei escrevendo sobre esses temas, em forma de artigo e tal, mas sem a rígida regularidade semanal que vinha seguindo. Eventualmente, publicarei artigos, e não só de minha autoria, no A&P (Arte & Política).

As entrevistas com os escritores estão tendo bastante repercussão. Parece que as pessoas estavam mesmo querendo algo parecido. Pretendo continuar fazendo. Estou com uma outra já pronta, de João Paulo Cuenca, a ser publicada na próxima edição semanal, que entra no ar no próximo domingo.

Sobre política, não tenho muito a dizer. Só que estou ficando realmente cansado disso tudo. O que está acontecendo é briga de cachorro grande e não vai ser minha opinião que vai influenciar alguma coisa. Continuo acompanhando o noticiário e apenas torço para que o imbróglio termine logo, e fique esclarecido o mais rápido possível. Economicamente, o país vive uma fase boa, com niveis de emprego subindo e inflação estável.

Por outro lado, a crise tem sido um tremendo exercício de democracia, sem contar que está desvendando e desmontando diversos esquemas de corrupção praticados há décadas.

Tenho que ir agora. Inté.

a poesia não paga o aluguel do meu apartamento

(Egon Schiele)
**

desespero-te sombriamente
entre a luz morta das praças do subúrbio
e o sonho vago, ansioso, de pequenos
proxenetas da rua Paisandu

esqueci-te num outrotra lânguido,
impregnado de magnetismo e crueldade,
eu era-me, brisa ácida, pelinhos tremulando
em pernas bronzeadas

ceticamente vaguei,
trajando roupas de aço,
por rodoviárias sujas e terrenos baldios,

estremecimentos que matam, assíduo enjôo
sem comida, pensamentos pesados,
sonhos simplórios, vil angústia

morro e mato,
verei membros arrancados,
lenta, amorosamente,
num contraste suicida,
entre a bomba e o piercing
no umbiguinho da garota dançando

desespero-te sem medo
ligeiro ódio apenas
para carburar, com rocks antigos,
teu coração cínico

os momentos transvivem-me
sangrentos, biliosos,
briga de velhos amigos,
hiroximas florindo
uma flor azul-assassino
que paradoxalmente
enrubesce o mundo

exaustos soldados,
punhetam-se nas sombras do bairro sujo
enfumaçado, destruído,
corpos mutilados
beijando fungos e cães


um sol doente
espalha negrumes brilhantes
pelos bares do centro
despertando seres estranhos,
aracnídeos semi-humanos
que vão copular em silêncio
nos cemitérios

o amor é uma mancha
de cerveja na calça
urina velha,
a lapa na sexta
o fogo das manhãs
sem cocaína de agosto
o grito das árvores
desfolhadas das ruas movimentadas

o anoitecer armado,
suavemente histérico,
que precede as guerras,
os casamentos,
as demissões em massa,
e as rodas de samba
da joaquim silva



Ouça o poeta recitando o poema.

Tristezas revolucionárias

meu partido são girassóis
doces como o mel do sangue
flor que chora
sangue floral
beijo terminal
sem mágoa

meu partido é vivo
beijos roubados
com violência
beijos bandidos
sanguinários, insanos

o partido é um sol
descarnado, morto
como pássaros esmagados
secos no asfalto
quente e sangrento
da avenida Brasil

meus pássaros são jovens
viciados em beijos
sôfregos, ardentes, sujos
chaga luminosa
borbulhando pus
e desespero

meus sonhos são flores
revolucionárias, tristes
crianças vagando com fome
poetas cegos
atropelados por motoristas bêbados

meus sonhos, minhas esperanças
nunca morrem, porque nunca exisitiram
sempre os matei
antes que saíssem do ventre
histérico da estupidez

(Miguel do Rosário - Agosto 2005)

Realidade supera a ficção

Vou dizer uma coisa pra vocês. No Brasil, a realidade supera em muito a ficção. Os novos romancistas terão que produzir as coisas mais fantásticas (sem perder a verossimilhança, o que é o mais difícil) para fazer frente à trama extraordinária que se desenrola na política brasileira. Por essa e outras que, quando os europeus e americanos diziam que na América Latina se produzia realismo fantástico, o Garcia Marquez respondia que não, que era apenas realismo. A realidade latino-americana é que é fantástica mesmo.

soneto

sherazade absurdis

Sei que o mundo não é de rosas puras
nem as rosas puras jamais me foram
caras, nem eles, que oram
pagaram-me com rezas as dentaduras

Meu tempo gastaria com cerveja
num botequim tranquilo qualquer
feliz mesmo estando sem mulher
praguejando, furioso, contra a Veja

Se o tempo passa e a idade
aumenta a marcha e a gente chega aos trinta
sem dinheiro para matar uma saudade

não vai ser estressando ou dando pinta
de otário, que comerei a Sherazade,
nem impedir, Ó Céus, que ela minta


(Miguel do Rosário)

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