O lobo do homem

O cão está alerta, brilho de loucura nos olhos baços, fio de sangue escorrendo da boca arreganhada. Animal obediente. O serviço foi bem feito, estão mortos, os dois, o velho e o menino. Terroristas. O sangue tem cheiro de fruta estragada.
Tenho tanta fome. Observo o sangue formando poças na sala. O cão arfa, esgotado pelo esforço. Olho os corpos e tento imaginar que são dois animais mortos, suas carnes frescas esperando a consumação final.

No alto do prédio, há um terraço. Posso fazer o churrasco lá. Escuto tiros na rua. O mundo se afunda na guerra. Se eu não o fizer, outros hão de fazê-lo. Morrerei de fome por causa dum princípio pré-apocalipse?

Foda-se, hoje vou jantar de qualquer maneira. Eu e o cão. Faço uma carícia em sua cabeça. Ele me olha agradecido por ter optado pela solução mais racional.

(pintura: Francis Bacon)

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