O cão e o nariz: um conto pós-moderno

Emilio Mogilner
www.123emilio.com


Sobre o amor, nenhuma palavra. Sexo. Isso sim. Corpos suados. Uma transa feita sem ventilador, no verão escaldante do Rio. Esperma, esperma, litros e litros de esperma, e a garota bebendo o esperma num copo, como quem bebe uma vitamina e diz: "Hum... que gostoso".

A garota não é tão garota, trinta e cinco anos. Seios pequenos, cadeiruda, movimenta-se rápida e fica repetindo: "me come... me come..."

Depois da transa, saímos. Fomos a um barzinho, beber cerveja, conversar. Ela me perguntou, em tom de ironia, se eu queria casar com ela. Claro, eu disse, quando? Combinamos de nos casar depois do carnaval.

Claro que é depois do carnaval, ela riu. No carnaval, ninguém é de ninguém.

Aí eu vi o cão. Ele estava na porta do bar, olhando-me sarcástico, com a língua de fora. Ergui-me e gritei para o garçon. Vocês deixam cachorros entrarem nesse bar?

Como se tivesse compreendido o que eu dissera, o cão latiu e partiu pra cima de mim. Desviei-me e o cão caiu sobre minha noiva. Seus dentes cravaram-se no belo nariz de Andrucha, e arrancaram-no.

Terminamos a noite no hospital: Andrucha mutilada, e eu decidido a adiar o casamento até que tivéssemos dinheiro para uma plástica de reconstituição do nariz.

Um comentário:

Renato Dering disse...

Conto muito bom cara! Parabéns!

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