os anti-romanticos suicidas

não juraram amor
nem prometeram fidelidade
não se casaram
não se envolveram em política

escreviam frios
poemas
sofisticados jogos
de palavras
sem o mínimo calor
a paixão
o crime
o sentimento punk
eram objeto de seus escárnios

o desespero
a angústia
para eles, temas vulgares

queriam o poema
insosso como a vida
classe média de seus (poucos) leitores

irritavam-se
porque ninguém os queria ler
muito menos comprar seus livros
apesar de tantos amigos
matérias de jornal
pagação de pau universitária

até que um dia
o poema encheu o saco
rompeu as cadeias
que o prendiam a seus patrões
foi sambar na favela
ficar bêbado na lapa
paquerar as garotas
jogar sinuca
entabular conversas
densas
sobre literatura e politica
sem viadagem
sem hipocrisia
sem repetir
escrotamente
as babaquices da veja
ou da cientista política
lucia hipollito

o poema ficou livre
pobre, vagabundo, marginal
e nunca foi tão erudito
nunca amou tanto os clássicos
Dante, Homero, Milton, Dickens
nunca foi tão amigo
dos poetas contemporâneos
dos que estão vivos e sofrendo
suavemente
as delícias e as dores
das madrugadas

2 comentários:

Anônimo disse...

um espasmo de gozo

Anônimo disse...

um espasmo de gozo

Seguidores

 
BlogBlogs.Com.Br