angústia pós-maldita

claro que morrem
os sonhos, numa poça
nojenta de sangue

antes de morrerem
eles gritam
ambulâncias desvairadas
o amor e o desespero

enfiam as unhas
pintadas de vermelho
na carne do sol
inimigo
e arrancam nacos
de músculos
e vomitam de dor
e desamparo

é claro que morrem
os sonhos,
todos os sonhos
morrem
devem mesmo morrer
para que de sua morte
nasça uma força mais sólida
uma rebeldia mais dura
um amor mais real
e mais inteligente

morram sonhos!
morram, como porcos,
como cães doentes
e raivosos
morram e levem
junto todos aqueles
que não sonham
nunca sonharam
cobaias da mídia
ratos das elites
medíocres do Brasil

morram os sonhos
mas não morra a esperança
não morra o ideal
nossos olhos estão abertos
os braços estão tesos
estamos prontos
para a briga

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