Nos bastidores do Festival

Finalmente, um filme de tirar o fôlego. Depois de Os Matadores, Ação entre Amigos, O Invasor, Beto Brant brinda o público com mais um petardo original, divertido e surpreendente, Crime Delicado. Na estréia no Odeon, ontem à noite, até os corredores estavam ocupados por um público ansioso pelo novo filme do diretor. Do lado de fora, dezenas de cinéfilos impedidos de entrar vagavam, perto das portas, desesperados, como criminosos rondando a mansão de um milionário.

O roteiro do filme, adaptado do romance de Sergio Santa'nna por Marçal Aquino e outros, é o seguinte: crítico de arte se envolve com mulher sem uma perna que trabalha, como modelo viva, para um artista plástico famoso. Com esse pano de fundo, o filme fala sobre arte, solidão, amor, teatro, tudo isso num ritmo vertiginoso e perturbador. É o filme mais artístico de Brant, até porque um dos temas centrais do filme é justamente a arte, ou a relação do artista com sua obra, e da relação do crítico com a arte e com a vida.

Dezenas de diretores, escritores e gente ligada ao cinema e à literatura prestigiaram o evento e permaneceram conversando do lado de fora. Eu fui pegar uma latinha de cerveja e observar as pessoas quando eis que surge a meu lado Marçal Aquino, um metro e noventa, com ar descontraído e feliz, pedindo uma latinha na mesma barraca onde eu estava. Aliás, cá entre nós, nada mais maravilhosamente carioca do que a barraquinha de cerveja. No dia em que Salvador descobrir a barraquinha de cerveja, a miséria do Pelourinho se reduz a metade. Aqui no Rio, metade da população está no comércio ambulante. Vida dura, ainda sem apoio do poder público, mas uma vida digna, sem patrão, que deixa o povo longe da indigência e da mendicância.

Voltando ao Marçal, minha assessora foi cumprimentá-lo e eu, meio travadão, emborquei mais uma latinha e me aproximei. Acabei fazendo um amigo. Apareceu o Sérgio Santa'nna e nós ali, na Cinelândia, tendo ao norte o Odeon, ao leste o Teatro Municipal; Biblioteca Nacional ao sul e, no oeste, Museu de Arte Moderna e o mar; a conversar amenamente de cinema e literatura.

Sergio Santa'nna confessou que o filme é muito mais do Brant e do Marçal do que dele. De fato, a história original do filme foi completamente alterada. Mas Sergio estava exultante com o filme. Fomos todos para a festa na Tenda de Copacabana. Sergio, Marçal e amiga foram de táxi.
Eu e minha assessora fomos de ônibus, mas nem lembre da luta de classe. Chegando lá, a credencial de imprensa fez o milagre e entramos no templo.

Lá encontrei um Beto Brant serelepe, feliz, com quem, aliás, já tinha falado rapidamente na saída do Odeon. Até dei um livro meu pra ele, mesmo sabendo que ele iria perdê-lo na euforia da noite. Não tem importância. Domingo, ao meio dia, tem palestra com Brant no Meridien e eu vou lá tentar uma entrevista com ele.

Por falar em entrevista, aguardem entrevista com Marçal Aquino e Sergio Santa'nna no Arte & Política. Com esse festival, e mais a correria do meu novo trabalho, o AP ficou sem duas edições semanais, mas voltará na semana que vem com força total.

Sobre o filme do Paulo Betti, no qual meti o cacete 2 posts atrás, queria acrescentar que o tema escolhido foi importante, e que o filme talvez tenha sua importância e lugar na história do cinema brasileiro. Fiquei sabendo que demorou cinco anos para ser feito e consumiu 3 milhões de reais.

Na festa da Tenda, ainda falei rapidamente com Lírio Ferreira, disse que o Baile Perfumado era uma sequência luxuosa de Deus e Diabo na Terra do Sol. Ele lembrou do lançamento de seu novo longa, Árido Movie, na próxima terça, lá no Odeon. Estarei lá, com cerveja. Por falar nisso, meu orçamento para a cerveja pós-filme já está se esgotando... Portanto, quem quiser depositar um mensalão na minha conta, fique à vontade. Sem preconceito ideológico nenhum.

Eu e o Marçal batemos o maior papo na Tenda. Perguntei a ele se não achava que o cinema poderia ser um catalisador da literatura brasileira. Ele não concordou muito, mas admitiu que tem apenas cerca de 2 mil leitores. Disse que esses 2 mil os satisfaziam, porque entre eles havia gente como Sergio Sant´anna e Rubem Fonseca. Não acreditei muito nessa sua satisfação. Por isso, acho tão importante a internet. Mal ou bem, um site bem feito, um blog bem escrito, consegue tão ou mais leitores que um livro chique editado pela Cosac & Naif.

Com o Sérgio Sant'anna, ainda contei que havia conhecido o João Filho, em Salvador, e ele comentou, feliz, sobre a conquista do poeta baiano de sair do interior para viver na capital, onde as novas e intensas experiências metropolitanas irão seguramente fertilizar a imaginação do artista. Também falei sobre o evento do Bagatelas, no Odeon, que teve participação de Sergio, e ele comentou que gostou muito, apesar de ter se excedido na bebida.

O Festival agora tá ficando mais animado. Eu tô ficando mais animado. Neste blog, dou minha opinião e falo sobre os bastidores. Críticas sérias, vocês sabem, é lá na Contracampo.

PS: Pra aqueles que estão se perguntando, como eu consegui conversar com tanta gente boa, a resposta é... pura cara de pau de bêbado, e a colaboração fundamental da minha assessora, que ao contrário de mim, é simpática e bonita.

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