ontem à noite, tomei um porre de cinismo
ferveu-me o sangue e matei dois,
irônicamente decidi, logo depois
estripar meu próprio pessimismo
a liberdade é moça bêbada
vagando solitária pela Lapa
à procura de quem lhe dê um tapa
por ser tão linda, e tão intrépida
ontem à noite, matei e fui fiel
a meus princípios de assassino
provei sangue com mel
e inventei nefando hino
louvando a morte, de quem sou réu,
no tribunal de meu próprio desatino
***
quem não quer estuprar a liberdade
moça nua que desfila sem vergonha,
na boca um cigarro de maconha,
mostrando a bunda pra cidade?
ela é linda, eu sei, é gostosa,
com seus enormes silicones,
jamais informou seus telefones
aos boêmios de voz melosa
não interessa, o meu amor
é como um bêbado louco
e se contenta com pouco
cada gesto dela tem valor,
um olhar, um beijo, uma carícia,
elevam-me a um mundo de delícia,
***
confesso, sou ladrão, roubo e mato,
ninguém tem nada com isso
se o governo é omisso
quem é que vai pagar meu pato?
ontem mesmo, eu sequestrei
fugazmente, uma senhora,
que pagou-me a penhora,
e depois eu a matei
moro em duque de caxias,
sou ladrão com muito orgulho
e sustento minhas tias
se morasse em ipanema
com dinheiro pra entulho
teria fim o meu dilema
***
quem diria, escritor, poeta, e homicida!
matou o pai e foi direto para o bar
beber cerveja sem pagar
pendurando a conta na saída
finge que é artista, não me engana
não passa de um vagabundo
com ganas de correr mundo
e ser metido a bacana
ele diz: "estou sendo injustiçado
não vêem que sou maluco?
Curar-me-ei em Pernambuco!"
é assassino e lê Machado,
Drummond, Pessoa, Rosa.
Sua arma é sua prosa.
Ouça o poeta recitando este poema.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
5 comentários:
Bom estar listada aqui!Gostei do poema, fugazmente sequestrada é demais!Risos!Quanto a festa funk, fica para outro sábado, mas se eu tivesse dinheiro para entulho...heheheheh.
Sonetos têm verbos decassílabos, caramba!
Ó! mas se criminosos são os sonetos, também nisso eles resolveram matar a regra...
e de morte bem matada. Como dizia minha vó. Que regra que nada! tempo perdido! lucubração de poeta gramático. Obedecer!!...só a si mesmo! Mesmo que a rima desande e o vocábulo se perca...tudo importa, nada é tão importante.
Senhor homissida, por um acaso prestas serviços? Estava querendo matar a hipocrisia, mas não encontro quem o faça.
Postar um comentário