eles continuam escondidos,
nas sombras ansiosas da noite
ou ofuscados por um sol ácido
os romances que nunca serão escritos
permanecem ocultos sob as feridas
que nunca cicatrizam
mas existem, os romances,
embora marginalizados
pela incompetência do artista
e brincam na memória,
como crianças que não fossem à escola
eles brincam de guerra
e, às vezes, roubam as armas de seus pais,
e matam uns aos outros
os romances que nunca serão escritos
são como putas amargas, envelhecidas,
porque venderam seu tempo e seu amor
em troca de férias pagas no inferno
os romances nunca serão escritos
mas estão vivos, podem ser vistos,
nadando nas ondas do Leme ou
enchendo a cara nos bares da lapa
jogam sinuca durante a semana,
odeiam qualquer tipo de trabalho
estão enjoados de literatura
e sonham apenas com a vida,
o amor e a liberdade
os romances não escritos
são o prelúdio trágico,
luxuoso e natural,
dos suicídios
e dos poemas
Ouça o poema recitando o poema.
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2 comentários:
pois Miguel,...leio o seu poema e quase que consigo enxergá-lo, tocá-lo...pois aqui também vejo concretamente os romances contos poemas nunca escritos...circulando pela rua e caindo pelos becos de salvador. Cara!!! Um poema pelos olhos de uma senhora que vi hoje da janela do ônibus em que vinha pro trampo. Outro pela camada de indiferença que cobre as outras pessoas que estando lá, não viram o que eu vi.
É isso aí, Jorge, a poesia está no mundo, andando de ônibus...
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