as manhãs às vezes
são tão pavorosamente institucionais
que o céu parece vomitar
professores letárgicos
carinhas chatos
que falam demais
meninas de bigode
e preconceito
contra poetas
saio de casa e me despeço
da utopia encouraçada
e violenta
com a qual me embriaguei
por toda a noite
todos os dias,
amplio os horizontes
da minha fuga
o dia amanhece
seco e industrial
as favelas destilam
seu veneno fantástico
em garrafas
vendidas
a preço de ouro
aos vampiros
do Jornal Nacional
hoje não estou muito bem
sintonizado com o mundo
as perspectivas profissionais
que sonhei na véspera
hoje me parecem duvidosas
não sei se quero
estar vivo o tempo todo
quero voltar para casa
dormir como um deus
exausto, após
orgias desmesuradas
quero dormir, sonhar
com a glória negra
dos mártires anônimos
quero descansar sobre
esta mesa,
faltar todos os compromissos
beber todas as cervejas
a que não tenho direito
depois sair à rua, berrando
como um cavalo,
um peru louco,
olhando a aurora
sangrar sem dor
e as favelas
cantarem
sem desespero
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5 comentários:
é isso aí, miguel, a poesia é a grande arma do mundo
Adorei, Miguel! A poesia é um bálsamo... Tenho uma terrível depressão pela manhã, à medida que o dia avança, melhora, até que a noite me salvo.
Sempre me lembro da despedida do Torquato Neto na parede (ou no espelho)do banheiro: " Para mim, chega!". Pena que ele não confiou na poesia, que consola e nos salva do desespero. Além disso, podemos voltar para casa e dormir como deuses.
obrigado pela bonita mensagem, glória.
e os verões se liquefazem em tenebrosas alegrias...
destroços sublimes boiando no suco atômico do amor
michelle vargas
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