Breves palavras sobre a coleção Cabides Descabidos, de Nilton Pinho


Lição de casa se aprende na rua. Tire do guarda-roupa suas melhores idéias. Viva na rua seus amores de casa. Falar de Nilton Pinho é falar do cara que inventou uma vacina para não se encaretar. A vida é uma só e não somos bichos. Democracia, política, imprensa, tudo isso é muito bom, mas a arte é muito mais antiga e muito mais importante e duradoura. Nilton foi beber na rua os micro-universos que povoam cada obra sua, cada cabide enlouquecido, triste, apaixonado, eufórico. Cada cabide tem sua história, sua malandragem, sua religiosidade. É isso, Nilton é uma espécie de profeta do caos e da infinita beleza do Rio e suas mulheres.

Nascido e criado na Ilha do Governador, para onde está sempre voltando em busca de conforto espiritual, e onde aprendeu a temperar a paranóia urbanóide com uma temperança calculadamente provinciana, antenado com as tendências mais antigas e mais modernas das artes visuais, Nilton Pinho conseguiu transformar a luta de classe numa guerra pessoal contra os fatores que estorvam a liberdade do artista, que talvez sejam parecidos com aqueles que estorvam a liberdade de todos.

Cabides, bonequinhas de plástico, fotografias abandonadas, imagens sacras, anúncios antigos, transformam-se, valorizam-se, ganham dimensão artística, potência estética, significado político, existencial, psicológico, sexual.

Os cabides de Nilton fugiram da realidade monótona, escura, abafada dos armários. Chapéu, cigarrinho no canto da boca, sorriso matreiro e olhar duro, eles contemplam atentamente o gingado da vida brasileira.

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