Os condenados

No verão ocorreram os piores dias que passei no inferno. Mas no começo, quando cheguei, caído de um precipício no qual uns demônios me lançaram por diversão, achei tudo muito bonito. Havia flores e um sol forte brilhava no meio do céu azul. O gordinho de óculos, carregando um pedaço de computador embaixo do braço, estava lá, e me sorria. Reconheci-o como editor de um site cultural, e perguntei o que ele estava fazendo lá. Ele não respondeu. Encarava-me com ar estúpido. Um outro rapaz que passava, nesse momento, vendo-me fazer perguntas ao gordinho, intervém, educadamente. "Ele não fala, nem escuta", informou. "Ué, por quê? Logo ele, que falava tanto...", perguntei. O rapaz, que pelo jeito, era bem informado, explicou-me que esse era um de seus castigos, porque falou muito e muita besteira durante a vida. Como não havia escutado nada do que diziam seus contemporâneos, também fora condenado à surdez. "Mas ler ele pode, não?", indaguei, intrigadíssimo. "Bem, não exatamente... Ele carrega no bolso um livro do Rubem Fonseca, traduzido para o chinês. O negócio é que toda a vez que ele abre o livro, toma um choque elétrico terrível", disse o rapaz.

Deixei o gordinho ali, com seus estranhos castigos, e continuei a andar, aflito por saber quais seriam os sofrimentos que ali me esperavam...

Nenhum comentário:

Seguidores

 
BlogBlogs.Com.Br