a poesia não paga o aluguel do meu apartamento

(Egon Schiele)


desespero-te sombriamente
entre a luz morta das praças do subúrbio
e o sonho vago, ansioso, de pequenos
proxenetas da rua Paisandu

esqueci-te num outrotra lânguido,
impregnado de magnetismo e crueldade,
eu era-me, brisa ácida, pelinhos tremulando
em pernas bronzeadas

ceticamente vaguei,
trajando roupas de aço,
por rodoviárias sujas e terrenos baldios,

estremecimentos que matam, assíduo enjôo
sem comida, pensamentos pesados,
sonhos simplórios, vil angústia

morro e mato,
verei membros arrancados,
lenta, amorosamente,
num contraste suicida,
entre a bomba e o piercing
no umbiguinho da garota dançando

desespero-te sem medo
ligeiro ódio apenas
para carburar, com rocks antigos,
teu coração cínico

os momentos transvivem-me
sangrentos, biliosos,
briga de velhos amigos,
hiroximas florindo
uma flor azul-assassino
que paradoxalmente
enrubesce o mundo

exaustos soldados,
punhetam-se nas sombras do bairro sujo
enfumaçado, destruído,
corpos mutilados
beijando fungos e cães

um sol doente
espalha negrumes brilhantes
pelos bares do centro
despertando seres estranhos,
aracnídeos semi-humanos
que vão copular em silêncio
nos cemitérios

o amor é uma mancha
de sêmen na calça
a lapa na sexta
o fogo das manhãs
sem cocaína de agosto
o grito das árvores
nas ruas engarrafadas

o anoitecer armado,
suavemente histérico,
que precede as guerras,
os casamentos,
as demissões em massa,
e as rodas de samba
da joaquim silva

3 comentários:

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