Esse poema é uma resposta poética, ou diálogo poético, em relação a um poema do Bortolloto, no site Máquina do Mundo, edição de julho. Vejam lá.
fracasso enquanto dor
à Mário Bortolloto
a derrota não é bela, Mário
mas triste e sangrenta
adoecendo em hospitais sujos
a miséria chora longe dos bares
dos teatros dos cinemas
o fracasso que pretendes é falso
glória e força travestida em dor
confundes derrota com a melancolia
dos poetas enfastiados
avessos aos holofotes
da vulgaridade
o fracasso é o grito
impotente do pai
diante do filho em pedaços
a dor de quem lê nos olhos
brancos da morte
um fim lento e humilhante
a mulher e seu espelho
que não lhe esconde os defeitos
o fracasso, Mário, é o fim da poesia
a cerveja quente, choca,
a traição dos amigos
o ciúmes descontrolado da namorada
a poesia, eu sei, alimenta-se
do ego partido
da sinceridade sem freios
do medo constante do homem
diante de si mesmo
e do Universo aterrador
mas a própria eclosão
do poema
é a superação desta dor
a glória suprema do homem
um grito de vitória
sobre a mesquinhez da vida
sobre a mediocridade
e o egoísmo
a poesia, irmão, é a vitória
mesmo sem grana
o poeta vaga pelas ruas
consciente de sua força
orgulhoso de sua raça
triste, é claro,
não pela ausência de um carro do ano
mas por não poder pagar uma bebida
a seus amigos
triste, é óbvio,
não pelo apartamento de luxo que não pode ter
mas pelo kitnet que deixará
de alugar com sua amada
o poeta é sensível
ao mundo, mas odeia os piegas,
os hipócritas, os burros e os arrogantes
seu mundo é simples, duro, forte,
feito de poucos e bons amigos,
alegrias simples mas verdadeiras
seu fracasso? é claro que perde
diariamente muitas lutas
seu corpo é marcado
de cicatrizes de guerra
mas o poema é como um caco
de espelho achado na praia
refletindo, loucamente,
o sol, as estrelas,
a dor e a liberdade
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