Duas poesias

Duas poesias novas, esperando a opinião de vocês


Triste dia de sol

Os dias de sol também são tristes
os mortos e os anjos não bebem cachaça
o mundo está cheio de dor e fantasia

aos trinta, as ilusões persistem
mas já não têm brilho
e sua coloração é de um verde-desespero

Pela janela do ônibus,
onde celebro a liberdade de ser anônimo,
vejo passarem as musas de mini-saia,
olhos pintados e um ar de princesas do subúrbio

o sol derrama um vômito de fogo
sobre a face pálida de um soldado
sem braços, sem pernas e sem olhos

as guerras são o grito de Deus
os jornais de hoje não publicam poesia
apenas entrevistas com escritores
preocupados exclusivamente com o gênio
que eles mantêm cativo
em algum lugar entre o pescoço e o umbigo

suas obras não valem mais que um cigarro
na mão daquela moça charmosa
que acaba de me soprar um beijo

*****

Na Lapa, com 10 reais

a cachaça é um sol translúcido
transbêbado
sexualmente transmissível

a cachaça é um amor impossível
entre a liberdade e a solidão
a dor e a dançarina
o cego e as cores sanguinolentas
do alvorecer

meu circo perdeu seus palhaços
num desastre em Niterói
ah meu bem, viver sem ti,
não imaginas como dói

alguns morreram
outros se perderam
fiquei só entre as estrelas
mijando sangue no pneu de um carro
aqui na Lapa, com dez reais
na carteira e a alegria
de ainda poder beber

de madrugada, vou-me embora
na carona de um cometa
feito de argila e carne humana
quero dormir, morrer, quem sabe?
ser ou não ser, eis o dilema
dos imbecis, dos suicidas, dos bêbados,
e dos poetas sem grana
desmaiados sobre os Arcos.

2 comentários:

Anônimo disse...

Diga lá Rosário!
A Lapa nunca vai deixar de nos inspirar bons escritos...
Bem, meu e-mail pessoal é vidalrj@bol.com.br
Aguardo seu contato!

Anônimo disse...

miguelito!
Como leitora fiel do A&P desde seus primórdios, quero te parabenizar, mais uma vez, pelas exelentes mudanças ocorridas em toda a estrutura do site. Muito legal, fico orgulhosa!
Bjcs,

Renata Maciel

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