versos da guerra

tenho sonhado com flores
de sangue que explodem
e mutilam e matam
e vejo a carne fresca
sangrando nos cafés

então vejo Deus,
ou anjo não sei
com olhos de um branco-leite
que ameaça-me com seus dedos
de aço indestrutível

percebo, estranhamente,
que ele tem medo
medo que eu descubra
suas fraquezas
e a revele aos demônios
que rondam as bordas do mundo
prontos para destruí-lo

tenho sonhado com peixes
de vidro, amores futuros,
e guerras terríveis
onde crianças são mortas
como moscas

Eu sou Deus e estou morto
nas trincheiras fétidas
de um deserto tão lindo
com suas dunas, palmeiras e alvos pássaros
cantando sob o sol
eu estou morto
e sou antigo como as águas
ausentes de Bagdá

Eu sou Deus
e me vingo,
ébrio de ódio
contra aqueles que deturparam
meus versos de liberdade

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