Todas as histórias já foram contadas? Não necessariamente

Na entrevista para o Globo, a escritora Marcia Denser se alinha com a turma da linguagem pura, ao afirmar que "todas as histórias já foram contadas" e que "o importante na literatura não é o conteúdo". A turma em questão é numerosa e densa. Reúne autores que inclusive não gostariam de ser colocados na mesma sala. Declarações bem parecidas podem ser colhidas em livros e entrevistas de Ruffato e Mirisola, e no mesmo Prosa & Verso que publicou a matéria sobre a autora de Caim (Editora Record), há uma resenha bem interessante de Flávio Izhaki sobre o novo livro de Evandro Affonso Ferreira, Catrâmbias! (Editora 34), na qual o Izhaki comenta justamente a opção de Ferreira pelo experimentalismo sintático.

Essa escola tem representantes de peso na literatura ocidental, a começar por Faulkner e James Joyce. Mesmo quem não gosta desses dois, tem que admitir a importância deles na renovação do romance moderno. Marcia Denser, por exemplo, é admiradora veemente da obra de Faulkner.

Então, será mesmo que "a história" acabou? Que a única literatura que presta, com letra maiúscula, que merece ganhar prêmios e ser estudada em universidades, será a literatura de linguagem?

Ontem estava conversando com um amigo, o artista plástico Hélcio Barros, um pessimista radical assumido e ele respondia nossas perguntas com um sábio: "não necessariamente". Brincamos que essa resposta serviria para todos os questionamentos do mundo. Igual a ela somente o célebre "ou não" de Caetano.

Pois bem, copio a resposta do amigo Hélcio. Não necessariamente.

Em primeiro lugar, nota-se uma profunda (e crescente) clivagem entre a literatura comercial, que vende muito (O caçador de Pipas, Quando Nietzsche Chorou, Código Da Vinci, etc) e a LITERATURA (na qual incluo trabalhos muito bons e ousados, mas também muito lixo pretensioso, de baixíssimo valor artístico) que vende cada vez menos.

Na literatura comercial, também se pode encontrar coisa boa, embora não para pedantes refinados e bêbados como são quase todos os literatos (incluindo eu). O povo gosta, fazer o quê? E olha que esse "povo" não é o mesmo que recebe o Bolsa Família, mas classe média e alta, enfim gente que tem muito mais dinheiro que os próprios "críticos" e "escritores", geralmente, têm - sobretudo se vivem das mixarias que jornais e revistas pagam pelas resenhas.

Sem mais delongas, discordo da opinião da Denser. Eu me considero um dos últimos românticos a acreditar no valor da história e que ela ainda tem e terá uma importante função estética dentro do texto LITERÁRIO. Não será mais soberana, como já foi, mas compartilhará o poder, dentro do texto, com a originalidade e o estilo.

Eu gosto de textos com história. Prefiro Doistoiésvki à Faulkner; Proust à Joyce. Até hoje curto ler Conan Doyle e suas intrigas policiais mirabolantes. Procuro sempre estar atualizado quanto aos novos autores policiais norte-americanos.

Mais que isso, tenho fé de que somente a história, ou enredo, poderá libertar a LITERATURA do gueto. Claro que, para que isso se concretize, será preciso novos autores das letras nacionais. Alguém que crie histórias muito boas e as narre de uma forma genial. Não digo que precisamos de um Messias, mas se for o caso, que pelo menos seja um de acordo com essa lenda aqui.

De novo na Roosevelt

"camisinha usada é ressaca de caralho esclarecido", MM



Neste sábado, o re-lançamento dos livros do Mirisola reuniu uma cambada de escritores na praça Roosevelt. Legal observar o pessoal se encontrando sem objetivo determinado, sem pretensão de criar nenhum "movimento", sem compromissos mútuos, apenas o prazer e a liberdade de estar juntos, tomar umas geladas, e fazer o velho e bom tráfico de idéias - o que alguns também denominam "filosofar", ou simplesmente "falar merda".

Aviso aos amigos que se confundiram: não estou morando em São Paulo. Só estive lá uns dias. Ontem, no evento organizado pelo Claudinei Vieira (que rolará todo último sábado do mês, das 14 às 18), conheci mais uma pá de gente e re-encontrei alguns novíssimos brothers (vejam como meu vocabulário se apaulistou).

O Mirisola, daqui em diante chamado O AUTOR, subiu à sua quitinete de marfim e achou um Buchanan que, generosamente, botou na roda. Não durou muito, mas foi bem degustado, sobretudo pelo Douglas Kim, que pegou a garrafa e saiu correndo para o meio da praça, tentando beber tudo pelo gargalo. Foi perseguido furiosamente por alguns dos presentes, enquanto Marcelo Montenegro recitava belíssimos poemas, ao ritmo místico e onomatopeico da guitarra de Daniel Galera.

Enfim, o uísque foi recuperado e o famigerado coreano amarrado num poste em frente ao bar, de onde passou a vociferar obscenidades (segundo informaram conterrâneos continentais presentes) em sua língua materna.

Camilla Lopes se divertia botando as mirisoletes pra correr e o AUTOR discorria sobre seu ceticismo radical em relação ao elefantinho da Cica e conjecturando, gravemente, sobre quem seria a velhinha da Casa do Pão de Queijo. E perguntava: "onde está aquele filhadaputa do Reinaldo de Moraes?"

De repente, todos os olhares se voltaram para uma das mesas. Diante do público estarrecido, Pindoca e Picunha beijavam-se na boca, um beijo incendiário, nitroglicerina pura. Até Kim parou de berrar em coreano e contemplava a cena em total perplexidade (ciúmes?).

Indignado, Vieirinha foi lá e interrompeu o idílio. "Vocês estão estragando a festa porra!". Os dois sorriram, envergonhados, e concordaram em segurar a tesão (no feminino, como prega o AUTOR) por mais algumas horas.

As coisas foram voltando ao normal. Os berros de Kim haviam alcançado harmonia com a música e a poesia. Alguém teve pena e foi lá dar um pouco de uísque pra ele. Enquanto isso, a Marcia Denser e eu travávamos uma dura discussão, ela defendendo Faulkner e menosprezando Dostoiésvki, eu dizendo que o único livro de Faulkner que prestava era Santuário e que o velho Dosti é que era O CARA. Até que me dei por vencido, beijei-lhe as mãos e concentrei-me no que restava do Buchanan.

O AUTOR continuava falando sobre o elefantinho da Cica e a velhinha da Casa do Pão de Queijo, até que alguém lembrou de lhe perguntar o que faria com o dinheiro do Jabuti, caso fosse o vencedor deste ano. O AUTOR então se ergueu, lentamente, olhou para um lado e outro, olhos brilhando de malícia, como se tivesse esperado anos para dizer aquilo e soltou:

- VOU MANDAR O R., O M., O N. E O P. TODOS ELES PARA A PUTA QUE OS PARIU! É ISSO MESMO, VOU MANDAR TODO MUNDO MANDAR NO CÚ! INCLUSIVE VOCÊS TODOS AQUI.

Todos ficaram muito constrangidos, mas ninguém ousava dizer palavra. Ouviu-se uma voz doce:

- Até eu, amor?

Ao identificar a voz, foi como se O AUTOR tivesse recebido uma descarga elétrica. Voltou-se e viu a sua AMADA, sorrindo carinhosamente. Ele abriu um sorrisão e disse:

- VOCÊ NÃO, VOCÊ NÃO.

Os dois se abraçaram e Camilla levou o AUTOR para seu apartamento, que fica dezessete andares acima do bar. Eu decidi soltar o Kim, que parecia estar bem mais calmo. Pedi, e fui atendido, para que ele não me aplicasse letais golpes de kung-fu. Conversamos sobre literatura - ele me contou que meu problema era levar as coisas a sério demais, a pensar muito, isso prejudicava meu texto e tal. Chegou mesmo a ficar furioso quando ousei falar que o Fome, do Hansum, também ficou conhecido fora dos meios literários pelas descrições precisas e minuciosas dos sofrimentos causados pela falta de comida. Nem pude falar em Josué de Castro. O Vieirinha chegou e acrescentou que o único texto meu do qual ele realmente gostou havia sido A RESENHA (o que não falei é que até A RESENHA, a meu ver, também não era lá essas coisas).

Durante todo o tempo (tirando o episódio do rapto do Buchanan), Bortolotto observou a confusão com serenidade budista, mas sabíamos que torcia para que qualquer um de seus MALAS prediletos chegasse para que pudesse exercitar seus punhos de caminhoneiro. Mais tarde, nos confessou que sua sede de boxe era tão grande que estava aceitando bater até em MALA MULHER, principalmente se fosse uma certa fulana que tentou queimar um amigo seu (e o próprio Bortolotto, por tabela) que trabalha na Folha, só porque o cara tinha assistido a uma peça do B, gostado e escrito uma crítica positiva.

Sentados junto ao balcão, Bactéria e Trovão morriam de rir. Mesmo quando fui lá e falei pro Trovão que eu ia pendurar a conta, o Trovão continuou rindo. Achei legal da parte dele. O Bactéria me cumprimentou pela RESENHA e falou sobre seus planos de montar uma filial no Rio de Janeiro. Enquanto falávamos sobre como os sebistas do Rio, em sua maioria, não tinham noção do valor dos livros que vendiam, ofertando às vezes verdadeiras raridades por preços irrisórios, um vento frio, terrivelmente frio, provocou calafrios em todos nós.

Uma sensação muito estranha pareceu invadir cada um dos presentes. Ninguém mais falava, só nos olhávamos nos olhos um dos outros e víamos uma espécie de pavor irracional. Seria o PCC? Seria o Alckmin? Alguém sussurrou que era o novo prefeito de São Paulo, Kassab, que vinha conhecer o Satyros 2. Felizmente, era só boato. Entretanto, a sensação ruim continuava. Alguém viu um vulto correndo pra cá e pra lá nos escuros da praça Roosevelt. Todos voltaram sua atenção para o local e, de fato, havia algo se movimentando.

- Esquisito, comentou alguém, parece que o vulto é... AZUL!

A frase caiu como uma bomba. Ouviu-se um "uuuhhh" geral. As mulheres começaram a gemer. Alguns, entre eles Picunha e Pindoca, saíram correndo, desabalados, gritando "o horror, o horror". Eu virei a Salinas que estava na mesa, e que nem era minha. O silêncio aterrorizado de todos era o silêncio que sucede a constatação de que algo terrível aconteceu. Enfim ouviu-se a voz de Bortolotto, trêmula, mas numa altura inteligível a todos no bar.

- Meu Deus, não é possível. É...
- Você sabe o que é isso, Bortolotto? - perguntou a Fernanda, olhos arregalados.
- Sei, mas não acredito. Não pode ser.
- Porra, diz logo cara, o que é isso? - eu insisti.

O vulto parecia se aproximar, trazendo um vento frio que gelava a alma... e aquele azul-claro mortiço, doentio, cintilando sinistramente por trás dele.

Enfim, Bortolotto falou, numa voz desconsolada:

- É ele, Jesus! Meu pai, é ele! O FILHO MORTO DA PRAÇA ROOSEVELT!



(essa é uma crônica ficcional, com suaves pinceladas de realidade. A cena do beijo, por exemplo, assim como o são as peripécias de Kim, é fictícia; foi incluída justamente como um toque de absurdo. A única coisa realmente verdadeira na crônica foi a aparição do fantasma azul)

Um Filho Morto na Praça Roosevelt

Não, Mirisola, não vou vender essa resenha por trezentos reais para o Prosa e Verso do Globo. Já bastam os “coelhos despachados a pontapés” da minha vida, oscilando entre o tédio da Fispal e a bebedeira na praça Roosevelt. Até porque eles nunca iriam pagar. Aliás, o que eles publicam ali não é resenha. É informe publicitário.

Tudo porque resolvi reler o livro, e o negócio bateu mais forte que a primeira vez – olhe que já tinha sido foda (eu nunca acreditei em primeiras vezes, as melhores sensações sempre vêm depois). Talvez porque estou em São Paulo, me sentindo às vezes um caipira, prestando muita atenção aos carros que vem de todas as direções. As encruzilhadas de sete pontas.

Sabe, cara, eu sempre achei – o que foi o meu erro capital – que a tristeza poderia me redimir. Ou seja, se eu ficasse muito triste, eu seria perdoado. Da minha covardia, principalmente. Essa mania de pedir desculpas. Fiz isso de novo, há pouco, depois de jurar que eu seria diferente. É foda... mas foda-se. Pra ser livre, a gente tem que brigar um pouco, fazer umas sacanagens, decepcionar os tolinhos e magoar os velhos frustrados.

Um escritor disse que toda literatura nasce da humilhação, ao que não dei muita bola. Me pareceu uma dessas frases de efeito. No entanto, a citação me parece pertinente ao Azul, um livro que, a meu ver, trata basicamente do sentimento de humilhação.

Todavia o escritor “é um bicho que fode”, e também um impotente (sim porque, infelizmente, a literatura nunca será uma foda em si), que se desespera porque vê o amor vencer o sexo e o amor, ah, o amor – o amor é uma merda. Bom mesmo é foder sem amor, mesmo fodendo aquela que você ama.

Eu quero escrever uma resenha do Azul sem falar da classe média e seus temores & vergonhas & podridões e não vou não vou. Foda-se a classe média. Ou antes, viva a classe média. Já chega meus ARTIGOS POLÍTICOS, que transferiram a dor que eu sentia no estômago (úlceras anti-colunismo, que besteira) para os tendões do meu braço direito. Voltei à cerveja.

Aliás, o que a classe média tem a ver com o teu livro, mêu? Nada, nadica, nonada. O teu livro – na visão que eu tive, enquanto descia a rua da consolação, pensando bem rápido, as palavras borbulhando, sem sequer imaginar que, horas mais tarde, tomaria uma surra na sinuca do Bortolotto – o teu livro é uma sinfonia de Stravinsky, ou melhor, um solo de Charlie Parker, e os caras que não perceberam isso são uns boçais. Os caras reconheceram o próprio rabo, isso sim, porque o rosto que emerge do livro não é do autor, é o rosto em si. Ou antes, o próprio cu. O cu em si. Um cu arrombado e sujo de sangue e fezes. O livro é música, cara, música clássica produzida com uma sintaxe louca, apaixonada, uma sintaxe bêbada, impossível, com bolsas embaixo dos olhos.

No dia seguinte, depois que terminei de ler o livro na cama, desci e fiquei na frente do hotel, bestando, olhando a rua, olhando uma garotinha que segurava o braço da mãe e chorava quietinha. Ela tinha trancinhas, a mãe era nordestina, nem ligava pro choro da filha. Tão triste, tão triste, tão humano, mas nem a tristeza me redimia. Não descansaria enquanto não botasse pra fora pelo menos uma parte da caralhada de coisas que pensei, subindo e descendo a rua augusta, bebendo umas cachaças no bar do Trovão, rodopiando, em transe, pelos corredores idiotas do parque de exposições Anhembi, fraudando a sala de imprensa de uma feira de alimentos para falar de literatura (o pior é a bicha que não pára de gritar histericamente do meu lado, não respeita nem a porra de uma sala de imprensa, o escroto).

Você reclamou de uns caras que vinham tentando te imitar. É melhor você se acostumar com isso. Picasso enlouqueceria se fosse implicar com todo mundo que resolveu fazer cubismo depois dele. Vale o mesmo para Chuck Berry. Eu mesmo meio que tô te imitando nessa resenha, sendo que, ao menos, tenho a elegância de assumir publicamente.

Voltando à humilhação. Porra, me senti humilhado. Ainda tô assim. Senti vontade de queimar tudo que escrevi. Começar de novo, sei lá. Talvez ainda haja tempo. Não vou te imitar. Aliás, antes que eu esqueça, vá se fuder (na eventualidade de você ter pensado isso). Contudo, a arte, depois que é publicada, vira patrimônio coletivo. Van Gogh não seria Van Gogh se não estudasse os pintores contemporâneos de Montmartre. O velho Dosty não seria quem foi não fosse um leitor assíduo de Tostói, Gogól e Puschkin, dos quais ele foi o brilhante continuador. A humilhação, disse outro escritor, não advém da vergonha por um erro pessoal, cometido acidentalmente, mas pela constatação de que somos o que somos e não há como mudar isso.

Ah, meu Deus, “que bosta, puta que pariu”, a liberdade sintática, estilística, narrativa do Azul do Filho Morto representa um marco importante na literatura brasileira e sabe porquê?

Antes, uma observação: sei que você não gosta muito do Rosa, e faz bem, mas eu gosto pra caralho daquele sertanejo sabidão, e no entanto achava que o filhodaputa tinha matado boa parte das minhas esperanças. Agora me sinto mais leve, embora humilhado. E triste pelos coelhos capotados, a morte do gente boa, a morte do meu pai, essa dicotomia dilacerante entre uma escrita de merda (às vezes) e uma razoável e firme e cruel intuição literária.

Bem, é um marco porque consolida uma liberdade que vem sendo buscada há tempos pelos escritores, uma liberdade não gratuita, um surrealismo refletido, existencial, realista mesmo. É melhor que (com perdão aos que gostam) as bobeiras holliwoodianas dum Agripino de Paula. Mais verdadeira (ô palavrinha besta, mas aqui vem com um sentido de autenticidade, força, verossimilhança) que os delírios non-sense do Campos de Carvalho. Sobretudo ajuda a libertar o meio literário da influência (não me incluo entre as vítimas dessa influência) dos analfabetos auto-promocionais e dos burocratas da pirotecnia virtual.

“Eu devo ser uma ameaça pra vida saudável”, diz você no livro. Bem, isso é mentira. Ou melhor, um paradoxo, um daqueles antigos e deliciososo paradoxos da literatura. Tão antigos quanto a maçã (uma vaga num puteiro, pois sim; ou seria um livro?) que a serpente & cafetina & tutora ofereceu à Eva.

Afinal, não é o tipo de saúde que eu quero. Saúde de hamsters de laboratório. Porra, o Azul é a celebração da doença! Nascemos mongolóides. Um bando de retardadinhos empilhando cubos e “lambendo azulejos”. Só depois aprendemos a queimar a bunda das putas e atropelar mendigos - isso sem perder a aura santa dos estetas canalhas. Aí começa a verdadeira merda.


PS técnico: Azul do Filho Morto, de Marcelo Mirisola, foi relançado há pouco pela Editora 34. Está disponível nas principais livrarias do país, porém o mais honesto é comprar no Sebo do Bactéria, na praça Roosevelt.

glória bêbada

a morte, a ressaca, o tédio
chegam assim, embebidos
na angústia inesperada (ou nem tanto)
das tardes em São Paulo
e no entusiasmo inútil
dos sonhos mortos
(crianças acéfalas que apodrecem
na porta das casas dos "homens de bem")

não, definitivamente
não é apenas a cerveja
que me resolve metafisicamente
alguns tipos de cachaça (salinas, por exemplo)
também me concedem
minutos decisivos
de glória bêbada

a glória anônima
insensata
incoerente
dos bêbados

mas enfim, o que é o bêbado
senão metáfora
do homem livre?

Livro tratado

Dei um trato no meu livro de poemas virtual. Mudei o título, cortei uns poemas, alterei versos. Quem tiver interessado numa poesia contemporânea clica aqui e lê. Ou então, vai na livraria virtual, aí do lado direito, e escolhe o livro de poemas Ao sol da minha crise.

PS: o link do livro não está mais disponivel. Qq coisa entre em contato comigo pelo email.

Agenda cultural

A Lapa continua surpreendendo. Quando eu achava que não tinha mais novidade na área, eis que ressurge o Beco do Rato, com atividades de quarta à sábado. Minha dica é a quinta-feira, quando rola um chorinho das oito às onze, e depois exibição de curtas num telão instalado aos fundos do beco. É um lugar antigo, escuro, com o cheiro dos séculos passados, as ruas estreitas, de pedras, quase não têm circulação de carros. O Beco fica ali no final da Joaquim Silva (na saída da Glória, perto das Termas Rio Antigo). A frequência tem sido nobre, músicos, poetas, escritores, cineastas, mulheres bonitas, entremeados, é claro, com vagabundos e malandros de toda espécie, conforme a milenar tradição lapiana.

Quarta sim quarta não tem evento de poesia. Nessa próxima quarta, 5 de julho, não vai ter. Mas na próxima semana tem. O único senão é o preço da cerveja, 3,50 todas as marcas. Uma espécie de couvert artístico embutido. Nada é perfeito. Estive lá na quinta-feira passada, junto com meu amigo Juliano Guilherme, o pintor da tela aí ao lado, mais um colega dele, além da minha amável secretária (patroa nas horas vagas). Depois apareceram dezenas de amigos e conhecidos, entre eles muitos representantes da marginália ilustre das letras e das artes cariocas.

Como já disse, o Beco fica próximo da esquina onde está a famosa Termas Rio Antigo. Nessa mesma esquina, do outro lado da rua, há um bar onde eu fui beber duas cervejas com um amigo, pagando menos. Assistimos o fim do expediente das prostitutas, algumas de bom humor outras nem tanto. Teve uma morena de olhos verdes que tocou meu colega, solteiro. A única, pra falar a verdade, que justificava o preço de R$ 150 a R$ 200 que, segundo ouvimos falar, cobra a casa pela entrada.

Lá pelas tantas, um carro estacionado ao lado da Termas teve o alarme disparado. O som chegava ao Beco, incomodando, principalmente eu, que odeio visceralmente o som de alarme de carro. Pra mim, devia ser proibido. Foda-se que é para a proteção da propriedade. É uma poluição absurda. Que se inventem outra, mais racional, não um esporro federal que acaba com o humor de qualquer cidadão dotado de um tímpano; quanto mais de dois tímpanos, como é o meu caso.

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