O primeiro

Imagino os seres humanos como milhões de espermatozóides nadando desesperadamente pelos canais uterinos, disputando um lugar dentro do óvulo, conquistar o troféu, atingir a glória, romper a membrana do anonimato, entrar no mundo quentinho e protegido onde serão alimentados, mimados. Onde poderão se desenvolver e se tornar grandes, inteligentes e poderosos.

Quem será o vencedor? O mais rápido, negando a parábola da lebra e da tartaruga, ou o mais paciente, confirmando-a? O mais esperto, o mais culto, o mais criativo?

O tropel de candidatos passa por mim, atropelando, machucando, pisando no meu pé. A gritaria fere meus ouvidos, o cheiro de desodorantes vencidos causa-me náuseas. Há tempos que observo, inquieto, diante de tal tumulto, minha incapacidade de prosseguir. Deixo-me estar, à margem, sem pressa, contemplando o tumulto cada vez maior.

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