Romance Botequinal

Des'que decidiu ser vagabundo (dois dias atrás, quando bebia sozinho num bar, algumas horas após se demitir), José não pregou olho, ou melhor, sentia como um prego de angústia entrando-lhe no olho esquerdo, e assoava o nariz a toda hora.

Assoava o nariz e coçava o olho, de onde começava a vazar um líquido amarelo, e falava sozinho, sonhando com um osso pra roer enquanto vivesse viralatamente pelas ruas.

Seus olhos pretos (todo ele era preto, em verdade), brincava caralhamente com uma peitona também preta que entrou na bodega-dega onde mamava feliz nas tetas duras de uma cachaça em graça. Brincavam os olhos? Ou era o ca-cetim que tomava o cérebro de assalto, se apoderando do sentido olhal?

Que veio fazer a preitona (peituda+preta, ok?), num lugar tão sujo e escondido lá atrás da Central, na boquinha do morro da Providência? Cigarros, ela pediu e virou-se para onde o preto tava que tava, mamando e babando, pronto e tonto, com seus olhos pretos e pobres - pinguços de pé-sujo em geral são péssimos financistas. Ah!

Quem acreditaria? Não faz um ano e o preto era um próspero camelô, até que uma cacetada do guarda o deixou meio maluco e só mesmo cachaça pra pegar no tranco. Ei, ele tá falando.

- Ô pretinha, não quer cuidar do nego que tá sozinho?

Um sorriso safado explodiu no bar e os dois se casaram.

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