Ontem eu e o Laurent Gabriel declamamos poemas para uma eclética platéia do Sesc São Gonçalo. O recital está dentro do projeto Noites na Taverna, organizado pelo Rodrigo Santos e Rômulo Narducci, dois poetas são-gonçalenses de nobre estirpe.
Depois fomos a um bar-show em São Gonça, escutamos muito rock'n roll com a banda Láudano, bebemos cerveja, cuba libre e atravessamos a ponte Rio-Niterói com o dia nascendo. Nos acompanhava um americano da Florida, amigo da namorada do Laurent, que ficou deslumbrando com o Daybreak (aurora) sobre a cidade maravilhosa.
No evento, recitei poemas de meu próximo livro, com título provisório "As armas da mente".
Só para lembrar, um destes poemas vai abaixo:
os romances que nunca serão escritos
eles continuam escondidos,
nas sombras ansiosas da noite
ou ofuscados por um sol ácido
os romances que nunca serão escritos
permanecem ocultos sob as feridas
que nunca cicatrizam
mas existem, os romances,
embora marginalizados
pela incompetência do artista
e brincam na memória,
como crianças que não fossem à escola
eles brincam de guerra
e, às vezes, roubam as armas de seus pais,
e matam uns aos outros
os romances que nunca serão escritos
são como putas amargas, envelhecidas,
porque venderam seu tempo e seu amor
em troca de férias pagas no inferno
os romances nunca serão escritos
mas estão vivos, podem ser vistos,
nadando nas ondas do Leme ou
enchendo a cara nos bares da lapa
jogam sinuca durante a semana,
odeiam qualquer tipo de trabalho
estão enjoados de literatura
e sonham apenas com a vida,
o amor e a liberdade
os romances não escritos
são o prelúdio trágico,
luxuoso e natural,
dos suicídios
e dos poemas
(miguel do rosário)
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4 comentários:
Gostei miguel, mas os comentarios acerca do poema nunca serão escritos, abraços.
obrigado Antonio. O trocadilho ficou engraçado, produziu umas risadinhas descontraídas por aqui. abraço
Eu li seu texto 'Peralá, pois agora eu vou falar' na novae.info.br e vim agradecer por vc ter dito tudo que eu tento dizer com minhas pouca voz. Valeu.
um dos melhores poemas que eu li na net. muito bom mesmo. como diz um amigo, a poesia tem que chocar. se não chocar, não vale nem ser escrita. entre o choque e o pastiche, há um abismo. vejo tantos poetas escorregando no limo das pedras desse precipicio. e o que é o choque? algo que transita entre o sublime e o desespero. hoje vejo dezenas de poetas desesperados, apenas isso.
S.B.
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