Beatniks da Guanabara

Conheci o poeta Edu Planchez através do poeta Brasil Barreto, este último famoso entre as rodas marginais da poesia carioca. Planchez andou exilado do Rio por muitos anos. Teve lá seus problemas. Agora está de volta, com força total. Montou a banda Blake Rimbaud que, segundo ele, divulga a poesia na bonita moldura da música. Quando íamos juntos, de van, para a festa de encerramento do Festival de Cinema, ele recitou um poema que me comoveu. Ainda vou publicá-lo por aqui. Por enquanto, vai uma amostra do trabalho dele. Vale dizer que Planchez é um legítimo representante da poesia bandida carioca, que tantos nobres representantes possui, como o falecido Sá Amaral, os vivos Silvio Barros, Brasil Barreto, Guilherme Zarvos, Laurent Gabriel e tantos outros.


2 poemas de Edu Planchez

Múltiplos circos se erguem da terra dos que atravessam as planícies com as formigas
(ao Zeca Silveira)


Multiplos ventres em imagens terceira dimensão
se alternam ensopando o dia das alegres primaveras
E aquele que ainda não vê, passa despercebido,
não abraça a papoula
de nossas extraordinárias cabeças,
não diz ao tempo
das pulsações o motivo de aqui estar,
nem brinca de flor-de-vênus com os duendes das canções

Múltiplos circos se erguem da terra
dos que atravessam as planícies com as formigas


**

Reviro mais uma vez as fedorentas ruas da Lapa
mas é nesse fedor que moro, mora a vida, mora a morte,
mora as nevoentas possibilidade do dizer

No país do sono o sol não precisa chegar
porque a lua carioca na sela da égua boêmia reacende as águas da Gamboa para os iguais a mim trovejarem
na eternidade da cerveja
Se a história é um carro alegre quero me alegrar

O sono rosado sabe o que homem deseja
Assim ele (o sono) segue despejando o preparado feito de canela e queijo francês sobre os barcos
das intenções ocultas no mistério do libido da lua

A Lapa exibe o sábado em seus telhados
e eu ainda continuo sonolento,
com vontade de ver o filme Brazil dos malucos do Monty Python

Eu, o eterno experimento devo voltar para a cama,
completar o ciclo, esbarrar nos corais dos signos, reler Jung
Esbarro na solda do noticiário da progressiva tarde urbana
A quentura dos elétrons inunda esse cômodo que chamo de sala
Eu, o cara devorador de informações e créditos afetivos,
despejo o que deveria despejar no rasgo das mulheres
no rasgo do idioma


Edu Planchez

Um comentário:

Roberto Iza Valdés disse...
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