Juliano Guilherme, o último humanista


(Visita da Camponesa - Juliano Guilherme)

Mistura teu sangue às tintas, dissolve a pasta com lágrimas amargas, e pinta teu último delírio. Estão todos esperando, na sala larga e iluminada, pelo término de tua obra, não para apreciá-la, mas para devorar-te, a ti, artista louco, tão louco que se intitula humanista. Imagina, ah! Humanista? Em tempos de pós-modernismo, em que o cinismo tornou-se tendência estética e estilo literário? Não importa. Não tem respeito às modas, não é? Prossegue pintando, como outros se dedicam a produzir armas, e à noite, vai aos bares, distrair a mente com doses excessivas de cerveja.

O quê? Que humanismo pensas que pode haver nessas carnes destroçadas, nesses violentos contrastes que usas, impudentemente, nessas telas bêbadas, como poetas gingando sob a chuva?

Não percebes que a vida te consome, que o céu está se abrindo em desvarios sangrentos para te receber em tua plenitude dolorosa?

Não vê o mundo rindo doidamente, mostrando dentes amarelos e roxos, apavorantes caninos, vampirescos, à espera de um passo em falso para te conduzir, gentilmente, ao inferno?

Vamos, descansa, desiste. Lança fora o pincel e mergulha na escuridão da história. Apague-se enquanto é tempo. Faça como os outros, vá engraxar as botas de Lúcifer...

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