Jam Session nas paradas

Agora toda quarta-feira tem Jam Session, com som, shows, sinuca, leitura de poemas... 3 andares de pura diversão. Apareçam!!! Em frente ao CCBB, cerveja gelada e barata, entrada franca até as 22:00. Clique na filipeta para ampliar. Endereço: Rua da Alfândega, 7, Centro – Ao lado da Escola de Cinema Darcy Ribeiro. A rua começa em frente ao CCBB na 1º de Março.

Ah, e tem mais: veja um
artigo meu, já bem antigo, sobre a Rio Jam Session, da época em que ela rolava no Tá na Rua.

Orgia sangrenta no baile funk

Volta e meia leio um paulista ou gaúcho fazer um comentário do tipo: as mulheres aí ficam andando de bunda de fora? Não sei bem porque, isso sempre me irrita um pouco, afinal 99% do tempo dos cariocas não é passado na praia, e bunda de fora só mesmo na praia. Entretanto, ontem no baile funk, vendo a gostosinha rebolando à minha frente, com uma calça tão apertada que era possível ver todos os mínimos contornos do rego, rendi-me às evidências: as cariocas realmente adoram mostrar a bunda.

Fiquei tão fascinado pela garota dançando que ela acabou percebendo, e passou a lançar-me olhadinhas maliciosas que deixaram meu pau mais duro do que já estava. Junto com duas amigas, ela veio se aproximando e, sem que eu percebesse, postou-se junto à mim, dançando ainda, e dando leves encostadas na minha área mais sensível.

Eu não queria sair dali nunca mais. Senti falta de uma cerveja, mas deixei pra lá. De repente, sinto alguém me puxar pela mão. Era uma das amiguinhas tesudas da menina à minha frente. Arrastaram-me para um canto escuro do terreirão onde rolava o baile. Uma delas, a que eu reparara primeiro, abriu-me o zíper e com a mão direita puxou meu pau pra fora. As outras duas beijavam-se uma à outra, e uma delas levantou a camisa e mostrou duas belas e grandes tetas.

Enquanto isso, a menina chupava-me o pau com um talento incrível. Tive que me esforçar para não gozar logo nos primeiros segundos. Segurei-me e curti sensações que me causavam estremecimentos tão fortes que a menina parou de chupar e olhou-me curiosa e preocupada. Ao reparar que não era nada, voltou a chupar. Eu revezava meus olhos entre a boca carnuda sugando-me o cacete e as duas gostosas se agarrando, uma delas chupando os peitos da outra, que se masturbava com os dedos enfiados para dentro do shortinho branco.

Estava quase quase gozando quando senti o cano gelado da pistola encostado na nuca. Não me virei, nem broxei. A garota continuou chupando, indiferente. A voz grossa e má conseguiu mesclar ao meu tesão um terror desesperado.

- Aí meu chapa, tu é guloso héin? Pegou logo três. E logo as três gatas do chefão...

Não pude evitar um gemido alto quando gozei, não podia suportar mais. Gozei com medo, o que produziu uma química estranha, e nem por isso menos poderosa. Também senti um gosto de sangue na boca. Pensei ter morrido, mas logo vi que o sangue não era meu. O cara que me apontava a arma tinha levado um tiro. A garota das tetas de fora segurava um pequeno revólver calibre 22 e tinha uma expressão de infinito ódio.

- Esse babaca sempre atrapalha nossas transas. Não aguentava mais.

As outras riram alto. Puxei as calças, fechei o zíper e me retirei discretamente.

Pinturas da Rose

(Rosemary Almendra)


Os corpos de Rose, contorcidos, Bacanianos, noturnos, que absorveram tanta emoção que se tornaram carcaças que deixaram de ser vivos e viraram estandartes da dor. A dor como beleza, expiação do sofrimento, através da expressão gráfica, gestos afirmativos em seu desespero, são como raio-x do dilaceramento da alma, visto sem filtro e sem pudor. O traço que explode e gruda na superfície do papel, assim como a emoção que violentamente gruda na pele dos corpos, transformando seus ossos, carnes e membros num símbolo da condição de angústia do ser.

Por Juliano Guilherme

Lampião revivido

(Pintura de Orlando Mattos, encontrada na rede)

Neste domingo, fui ao teatro assistir Lampião e Maria Bonita, com os atores Widoto Áquila e Fafá Menezes, no Teatro II do CCBB. Meus amigos sabem que eu passei mais de três anos pesquisando a vida de Lampião e as circunstâncias que o levaram a ingressar no cangaço, do que resultou um romance, intitulado Parabelum. Qualquer dia, eu disponibilizo esse romance na rede. Quem estiver interessado, mande-me email que envio o original.

Gostei muito da peça. Achei que Áquila faz uma exímia interpretação. Mas a Priscila achou terrivelmente chato. Eu entendo. É uma peça histórica, que agrada apenas a quem conhece ou se interessa pelo assunto. Faltou mais ação, mais história, mais trama. Contudo, é uma peça responsável, que dá conta da complexidade do tema, que envolve banditismo, revolta social, amor, paranóia, poder. Em nenhum momento, o texto vulgariza-se. Os diálogos são eficientes na reconstituição do vocabulário sertanejo, pecando talvez um pouco somente no início. A peça mostra que a força lírica e política de Lampião continua atuante. Mesmo morto, a chama da revolta lampiônica continua iluminando as mentes mais inquietas do país.
Uma autobiografia de Lucas Frizzo, de Botika
Azougue Editorial, 2004, 70 páginas

É o livro mais louco que li na vida. Surrealismo pungente. Tratado psicodélico sobre a dor. Viagem alucinante pela mente perturbada de um carioca da zona sul. Perfeito como vacina anti-moralista. Na verdade, se colocássemos tudo que pensamos num livro, o resultado seria a coisa mais escatológica do mundo. E não é que o Botika fez isso? As cenas são tão poderosamente escabrosas que não dá nem para repetir aqui. A insânia é tão grande que vira arte. Botika escreve como se fosse morrer amanhã, resgatando a legítima tradição rockeira do carioca. É tão louco que chega a ser político. Dá medo. Dá vontade de rezar para que Botika nunca implique com a gente. Uma prova que a arma mais perigosa de todas continua sendo a palavra.

A balbúrdia das madrugadas boêmias

(na foto, o poeta e amigo Brasil Barreto)

Ontem tive a oportunidade de declamar poemas no palco alternativo do Circo Voador, no Festival Poesia Voa, organizado pelo poeta Tavinho Paes. Estavam lá, também declamando, os poetas Edu Planchez, Brasil Barreto, Guilherme Lessa, Sideral, a Priscila Miranda.

No palco principal, a surpresa foi o talento musical de Botika, rapaz de 22 anos que publicou, pela Azougue, o incrível romance "Autobiografia de Lucas Frizzo", que tocou violão e cantou, em conjunto com Ericson Pires, poeta multimídia e gente boníssima

Também no palco alternativo, o grande Mano Melo marcou presença. O escritor Dau Bastos apareceu para o abraço. Doei meu conhaque para os poetas e parti. Minha noite tinha começado cedo, com o Encontro Bagatelas, na livraria Dantes, no Cine Odeon.

O começo da noite: vodka, garrafas quebradas e poemas interrompidos
Devido ao péssimo atendimento no Odeon, o encontro Bagatelas foi transferido para um restaurante na Rua Alvaro Alvim, atrás do cinema, e mais tarde para o Bar Arco Íris, na Lapa, onde tomei um porre de vodka (por culpa do Julio Correia, que não estava bebendo e não aceitou a provocação que fizemos - então tivemos que tomar aquela vodka com coca-cola, e as outras três que eu pedi).

Já devidamente animado pelos espíritos russos que habitam a vodka, e entusiasmado com o Festival de Poesia rolando ali do lado, convoquei os comensais a escutarem um poema de minha autoria. Puxei do bolso os papéis e esbarrei numa garrafa vazia sobre a mesa, que caiu e quebrou. Um dos presentes tentou transformar o fato em motivo para que eu calasse minha voz e guardasse a viola no saco. Para provar que uma garrafa quebrada não pode matar a poesia, quebrei outra garrafa, de propósito, mas dessa vez causando uma certa comoção em mesas adjacentes, sobretudo numa onde estava um argentino muito abusado que disse uma grosseria.

Puxei uma cadeira com o intuito de destruí-lo (na verdade um blefe), e fui devidamente segurado por inúmeros braços pacifistas. Alguém declarou em alto e bom som, vamo-nos embora. Escutei pasmo uma salva de palmas ao redor, e o grito de Fica! Fica! A glória! Não tenho certeza, porém, se isso foi alucinação...

Uma senhora de uma mesa ao lado ergueu-se e veio me dar um beijo, pedindo-me delicadamente que ficasse. Em sua mesa, mais três pessoas me olhavam com carinho infinito, provalmente pensando: esses poetas são todos meio doentes, coitados... o que é a mais pura verdade (por pouco não uno meu destino a meu tio do post anterior...)
Enfim, conseguimos entradas para o Festival de Poesia, inclusive para a senhora carinhosa e amigos. E aí voltamos ao início desse post.

Enfim, foi uma noite felicíssima. Viva a poesia e a balbúrdia das madrugadas!!!

Exposição no Museu Bispo do Rosário


Ontem estive na Colônia Juliano Moreira, que ficou famosa mundialmente por ter abrigado o artista Bispo do Rosário. Neste domingo haverá a inauguração de uma exposição de arte contemporânea e eu fui lá acompanhando meu amigo Nilton Pinho, que levou alguns trabalhos seus e de outros. A exposição faz parte das comemorações dos 80 anos do instituto municipal Juliano Moreira, que fica em Jacarepaguá, zona oeste do Rio de Janeiro.

Na Colônia, conversei com Ricardo Aquino, diretor do museu, que me explicou seus planos para o futuro. Ele me disse que a idéia da Nise da Silveira, com o Museu do Inconsciente, instalado pela psicóloga no Centro Psiquiátrico Pedro II, CPPII, no Engenho de Dentro, precisa ser superada. A arte produzida por pacientes atingiu um grau de respeitabilidade tão grande que precisa sair da esfera psiquiátrica e ganhar o mundo. Por isso, ele quer fazer do Museu Bispo do Rosário um centro de arte contemporânea, coisa que a zona oeste do Rio não tem. Aquino nos apresentou, a mim e ao Nilton, alguns artistas plásticos clientes da Colônia que estarão participando da exposição. É sempre emocionante ver como pessoas das mais humildes condições sociais, e ainda com problemas mentais, arrostam todas as dificuldades para se dedicar à missão de produzir arte.

Eu me comprometi a fazer uma reportagem e uma resenha sobre a exposição, que fica na Colônia por um tempo. Aquino também enviou-me artigos e manifestos sobre o tema, os quais publicarei na próxima edição do Arte & Política.

Veja aqui um link para uma reportagem sobre a exposição.

Mais um poema do Buk


O jorgito desenterrou mais uma pérola do Buk. Aliás, vale a pena navegar no blog do Jorge Ferreira (link ao lado), que prossegue produzindo belos poemas e posts inteligentes.

Leia aqui o poema do velho Bukówski

Encontro do Bagatelas, sábado, no Odeon


Todos lá.

Breves palavras sobre a coleção Cabides Descabidos, de Nilton Pinho


Lição de casa se aprende na rua. Tire do guarda-roupa suas melhores idéias. Viva na rua seus amores de casa. Falar de Nilton Pinho é falar do cara que inventou uma vacina para não se encaretar. A vida é uma só e não somos bichos. Democracia, política, imprensa, tudo isso é muito bom, mas a arte é muito mais antiga e muito mais importante e duradoura. Nilton foi beber na rua os micro-universos que povoam cada obra sua, cada cabide enlouquecido, triste, apaixonado, eufórico. Cada cabide tem sua história, sua malandragem, sua religiosidade. É isso, Nilton é uma espécie de profeta do caos e da infinita beleza do Rio e suas mulheres.

Nascido e criado na Ilha do Governador, para onde está sempre voltando em busca de conforto espiritual, e onde aprendeu a temperar a paranóia urbanóide com uma temperança calculadamente provinciana, antenado com as tendências mais antigas e mais modernas das artes visuais, Nilton Pinho conseguiu transformar a luta de classe numa guerra pessoal contra os fatores que estorvam a liberdade do artista, que talvez sejam parecidos com aqueles que estorvam a liberdade de todos.

Cabides, bonequinhas de plástico, fotografias abandonadas, imagens sacras, anúncios antigos, transformam-se, valorizam-se, ganham dimensão artística, potência estética, significado político, existencial, psicológico, sexual.

Os cabides de Nilton fugiram da realidade monótona, escura, abafada dos armários. Chapéu, cigarrinho no canto da boca, sorriso matreiro e olhar duro, eles contemplam atentamente o gingado da vida brasileira.

Mal Estar Contemporâneo Blues

Ressaca filha-da-puta. Um pássaro vermelho bebe água num pires na janela.

“Se eu me mexer, ele foge. Aí eu fico louco”, raciocino.

Pensar, é só o que podes fazer agora, digo de mim pra mim. O pássaro vermelho é tua consciência. A água é a vida.

Pego o revólver debaixo do travesseiro e atiro no pássaro.

O lago escuro

Para Priscila

e se fosse uma chance
perdida
rolando sobre rochas
de sangue e caindo
sobre montes de lixo
romântico
com olhar sujo
e íntegro
que se liquefaz
em sonhos
de mar e guerra
invenções ferozes, como
ela ao acordar sem mim

quem sabe o futuro
de vetustas solidões
sangrentas hipocrisias
que lhe espera à sala
escura e vibrante da TV?

e se fossem mães
tão puras
que se transformam
em dóceis cães do inferno
porque são boas
e os bons ardem
no inferno do mesmo jeito

e se fosse uma chance
jogada fora
furiosamente, como alguém
que fugisse do hospital
para viver seu câncer
longe das camas
esterelizadas e do olhar
pegajoso dos inimigos

é sempre melhor fugir,
mergulhar no lago
do sofrimento
e afogar-se
como quem
escapa da morte e vai
lutar,
absurdamente,
outra batalha.

Recife me espera

Estarei nos dias 16 a 20 deste mês na capital pernambucana, fazendo o lançamento do livro Contos para Ler no Botequim, no bairro antigo, Recife Velho. Quem tiver algo a me dizer, favor me contatar nos comentários abaixo ou enviar email (ao lado).

Bestiario com edição nova & otras cositas

Vale a pena ver a edição nova de Bestiario, revista de contos. Também aconselho ler o poema de Laurent Gabriel, na edição atual do Arte & Política. Por fim, informo que estou com uma coluna mensal no Bagatelas, revista de contos (link no alto, à direita). Publicarei, todo mês, uma entrevista com um escritor, poeticamente prefaciada por mim.

Parati lá vou eu

E a Pri conseguiu mais uma vez. Vamos levando um grupo de franceses para a linda cidade histórica do sul fluminense. Cidade poética que, espero que me inspire histórias escabrosas para contar aqui. Por enquanto, vai aqui o link de um conto que escrevi sobre a cidade, e que ainda tem muito a ver com o momento.

Descobri o Claudinei

E pensar que eu tinha preconceito contra poesia visual... voltei a acreditar um pouco mais no mundo. Dêem uma olhada no portal do Claudinei Vieira, no link Poemas. Aqui.

Manhãs de sol

Logo pela manhã
acordo ainda sonado
trazendo nos olhos
um sonho inacabado

lembranças de lagos
com cheiro de maresia,
dúzias e meias de escamas
espalhadas por todo canto.

tenho a exata impressão
que seguia a canção do vento,
caminhando, sem ranger os dentes
por atalhos de algodão.

Terei mais um dia mareado,
ocupado em afastar essa cisma
de trazer nas bocas das manhãs
um estranho sabor de sal.

Brasil Barreto

Eros Urbanos

(Mais um poema do Brasil Barreto, do livro Farpas & Agulhas)

Jamais imaginei
um ser completo

de largos risos
seios alvos

como a luz
intenso brilho

reverso do teu cio
ao longe me seduz

teu corpo, clara lua
teu rosto meu desvario

sutil silhueta anil
como as curvas exatas

das margens calmas
na fluidez desse rio,

afluente que deságua
em beleza semi-nua

pelas negras pálpebras
dessas longas ruas


Eros Urbano, Brasil Barreto

Os poemas de Brasil Barreto

O Brasil Barreto, diamante que se lapidou na poesia marginal dos anos 70 e 80, um dos poucos que conseguiu sobreviver à tsunami global, que deixou vivos apenas os que aderiram ao espírito pop, pueril e vendido dos novos (ou nem tão novos) tempos, brindou-me com mais um livro de sua extensa bibliografia, o Farpas & Fagulhas.

Aos poucos, irei compartilhando com vocês a beleza e força e rebeldia de seus poemas.

Hoje, publico esse:


Insônia

Parte do meu corpo
insiste em dividir-se,
meu lado esquerdo
completamente adormecido,
aquece minha carcaça.

Enquanto meus tormentos
declinam à minha direita.

Surgem revelações noturnas
de pálidas belezas,
nos remetendo a tempos
de profundidade estelar,
a pontos luminosos sem idade.

Tropeçamos em noites de insônia
avalanches de eternas indagações,
- quantos de nós haverão na cidade?

(Brasil Barreto)

Parceria com Bagatelas

Tenho uma ótima notícia para vocês. Quer dizer, pra mim é ótima, pra vocês não sei. Minha imparagonável pessoa fechou sólida parceria com o editor de Bagatelas, Raphael Vidal.

Cariocas quase vizinhos, decidimos unir forças em prol de insubversivos e nada insulsos projetos.

Estarei publicado entrevistas e textos mensalmente na Bagatelas site, e na revista impressa Bagatelas, a ser lançada em dezembro.

Confiram a edição de novembro da Bagatelas! Nós entramos lá com uma transvívida entrevista com o neofrezóide escritor João Gilberto Noll. E há muito mais coisa lá: 2 crônicas diárias, por 2 autores. Contos mensais. Vão lá.

bagatelas.net

Ah, e não esqueçam do Concurso Internacional de Contos Bagatelas! É de graça!

Sarau Literário e Exposição na Lapa

(Helcio Barros - serie noturnos)


Amigos, estou divulgando aqui o Sarau Literário & Visual no ateliê do Alexandre Alves e do Edson Silveira. Haverá exposição do Helcio Barros, poesia, música, etc. Estarei lá.


Data: 5/11 (próximo sábado), a partir das 18 horas
Endereço: Rua Francisco Muratori 38/102
(sequência da Rua Gomes Freire, em Santa Teresa)
Realização: Alexandre Alves, Clívia Reis e Edson Silveira

A poesia dá sede


Tem livros que nos encorajam a continuar do jeito que somos: filhos-da-puta, delirantes, sensíveis, tarados. E claro, bêbados em toda a plenitude, em toda filosofia e liberdade e alegria que há por trás dessa palavra. Bêbado, bêbado, bêbado. O livro de Moraes é um livro bêbado, maravilhosamente bêbado.

O personagem principal orgulha-se de ser um dos mais finórios vagabundos de Paris. Caga pra política, caga pra moral, caga pra alta literatura, enfim, vai no banheiro de seu estudiô e caga tão firme e forte que a merda se transforma numa peça de grande beleza, num sonoro e cheiroso hino de liberdade.

A edição que caiu-me nas mãos, editora Azougue, com sardônico pósfácio do Bortolotto, foi devorada com aquela voracidade metafísica que o Bukówsvki sentiu quando descobriu John Fante.

É um livro que nos tira do sério, nos faz querer, com vontade de criança chorona, toda a nossa ingenuidade de volta, toda a felicidade perdida de uns anos 70 vivido intensamente em quase todo mundo e que aqui foi merdado por uns milicos reaça e sem imaginação.

Dá vontade de ir pruma festa, ouvir bob dylan, stones, lou reed, charlie parker, chico buarque, gil, rorô, encher a cara de uísque, dar uns tapas, beijar a garota mais bonita e ir pra casa fazer amor com o caos.

Falar o quê? Moraes comprovou a tese de que arte não é conceito. Arte é intuição. Diversão. Liberdade. Não dá pra repetir trechos aqui. Não tem graça. Você tem que ler no contexto. Como vou convencer vocês que a cena em que Ricardinho (o protagonista) está transando com uma estrangeira e observando o camundongo no canto do quarto, que isso é muito bom?

De resto, o autor nos lembra que a melhor defesa contra o caretismo, a violência, o tédio, é o ataque: atacar uma cerveja, um papo, uma mulher, um base, um filme, um passeio sem direção pelas ruas de São Paulo, Rio, Porto Alegre ou Paris.

Moraes traduz, em brasileirês claro, a lírica libertária, inconsequente e viril dos escritores beatniks, com a malemolência, o humor, a doçura e tolerância tão nossa... tão bossa...

Nascido em 1950, o autor tem hoje 55 anos, certo? Pois então, aí vai o convite: caro Moraes, se ainda conservas alguma fração daquela energia transbordante da época em que escrevestes esses livros, empresta ela um pouquinho pra mim, essa alegria de viver, que eu quero sair de casa agora, me transformar no Cristo Redentor e mijar aliviado e sarcástico em todas as famílias-tradicionais-proprietárias da Zona Sul.

Agora, é claro que vão tentar usar o Tanto Faz para fazer apologia da cabeça oca. Nos anos 70/80, quando todo mundo era esquerdista-engajado, Moraes era meio maldito. Mas suas idéias sobre o mundo, o porra-louquismo centrado no próprio umbigo triunfou e os jovens de hoje pegam frases do Tanto Faz, como "quem precisa da história, essa puta velha assassina?", para justificar sua atitude resignada e mesmo francamente reacionária perante o mundo.

Tanto Faz é arte, é um canto desesperado de liberdade. Assim como ele desprezava os hippies-engajadinhos-riquinhos-emburrados de sua época, também não lhe agradaria virar ícone dos iúpizinhos engomados, com suas loucuras burocráticas de fim-de-semana e suas teses histéricas e rancorosas sobre a esquerda. São a sombra neo-conservadora dos mesmos sectários que outrora enchiam o saco dos artistas. O protagonista de Tanto Faz está acima de toda essa politicagem barata. Está fumando um back às margens do Sena ou do Tietê, contemplando o sol copular com o horizonte.

dias nublados

as manhãs às vezes
são tão pavorosamente institucionais
que o céu parece vomitar
professores letárgicos
carinhas chatos
que falam demais
meninas de bigode
e preconceito
contra poetas

saio de casa e me despeço
da utopia encouraçada
e violenta
com a qual me embriaguei
por toda a noite

todos os dias,
amplio os horizontes
da minha fuga

o dia amanhece
seco e industrial
as favelas destilam
seu veneno fantástico
em garrafas
vendidas
a preço de ouro
aos vampiros
do Jornal Nacional

hoje não estou muito bem
sintonizado com o mundo
as perspectivas profissionais
que sonhei na véspera
hoje me parecem duvidosas

não sei se quero
estar vivo o tempo todo
quero voltar para casa
dormir como um deus
exausto, após
orgias desmesuradas

quero dormir, sonhar
com a glória negra
dos mártires anônimos
quero descansar sobre
esta mesa,
faltar todos os compromissos
beber todas as cervejas
a que não tenho direito
depois sair à rua, berrando
como um cavalo,
um peru louco,
olhando a aurora
sangrar sem dor
e as favelas
cantarem
sem desespero

Bandidos no Odeon


Esses bandidos aí são, por incrível que pareça, todos escritores: Começando pela esquerda, Julio Cesar Correia (que acabava de lançar o seu livro A arte de Odiar), Raphael Vidal, Dodo Azevedo, Luciano Silva, Ernesto Aguiar e Miguel do Rosário. Todos da equipe Bagatelas (tirando o Dodo, convidado especial, e eu, "camarada" especial). O encontro ocorreu no sábado 22/10, na livraria do Odeon, na Cinelândia.

Experiências

Sou meio ignorante em literatura contemporânea internacional. Confesso que motivos pecuniários são um pouco culpados disso, já que me é lícito adquirir um Dickens por cinco reais, enquanto um livro novo em inglês, na livraria, não sai menos que trinta pilas.

Na fase mais aguda da minha crise financeira, fui assíduo frequentador de livrarias, onde devo ter irritado algum vendedor mais caxias com minha insistência em confundir livraria com biblioteca. Passava até mais de três horas lendo um livro mais recente. Interessei-me bastante, por um tempo, por alguns policiais norte-americanos. Vi muita coisa interessante. Impérios em decadência, historicamente, sempre produziram boa arte.

Entre os argentinos, li uns contos de Ricardo Piglia e sou fã incondicional de Ernesto Sábato, sobretudo de Heroes y Tumbas, romance delirante em que o personagem principal, Fernando Vidal, entrou para minha galeria pessoal dos grandes personagens do século. Dispensem-me aqui de falar de Cortázar e Borges.

Paul Auster e Philiph Roth me deram alguns momentos de lazer. Li esparsamente muita coisa desses dois autores, e com especial atenção (tendo inclusive comprado os livros) Leviatã (de Auster) e a Marca Humana (Roth). Não me impressionaram muito, apesar de reconhecer a destreza rítmica e o controle narrativo dos romances. O que incomoda nos norte-americanos em geral é que a consciência do mal e da injustiça, neles, sempre me parece ingênua, sobretudo quando leio o noticiário policial daqui.

Já fui admirador do Mario Vargas Llosa, tendo lido quase tudo dele. Hoje estou enjoado do Llosa, acho que percebi que ele se tornou meio clichê.

Ontem saí de casa à tarde, em busca de um espaço tranquilo para ler um pouco. Como trabalho em casa, às vezes me enche o saco ficar olhando para as mesmas paredes, parece que o cérebro pára de funcionar. Ia dizendo, fui a um bar aqui perto (moro num bairro com mais bares que gente), com um jornal e um livro de contos do Stephen King. Dei uma fugaz folheada no Globo, o suficiente para me convencer que não valia a pena me estressar lendo porcaria, e parti direto para o King, depois de pedir uma Antartica ao barman.

O livro foi adquirido no sebo, por módica quantia, e está no original, o que me traz o pensamento tranquilizador de que, se estou lendo merda, pelo menos estou aperfeiçoando meu inglês.

Tomei apenas uma cerveja, li o conto e voltei pra casa. Guardei o King e peguei na estante o "Aventuras do Sr. Pickwick", romance de estréia de Charles Dickens, tradução de Otávio Mendes Cajado.

Esse livro é de fazer você mijar de rir. Os pickwianos são cavalheiros londrinos que viajam pelo interior da Inglaterra em busca de histórias, diversão e aventuras. Acabam se metendo em situações tão grotescas e hilárias que a leitura fica difícil, pois é interrompida (pelo menos no meu caso) por acessos incontroláveis de riso.

No fim de semana, li um trecho de Flexa de Ouro, do Joseph Conrad, na livraria Letras & Expressões. Antes de sair, tive que fazer uma ponderada meditação para me consolar de não poder, nesse momento, comprar esse livro. Sou fã alucinado de Conrad, assim como o sou de Jack London.

Finalizo com outras dicas literárias: O suicídio do governador Antônio Menino, de minha autoria; e, para quem aprecia o estilo bukowskiano, os contos de Mão Branca, disponíveis nessa edição do Arte & Política.

Juliano Guilherme, o último humanista


(Visita da Camponesa - Juliano Guilherme)

Mistura teu sangue às tintas, dissolve a pasta com lágrimas amargas, e pinta teu último delírio. Estão todos esperando, na sala larga e iluminada, pelo término de tua obra, não para apreciá-la, mas para devorar-te, a ti, artista louco, tão louco que se intitula humanista. Imagina, ah! Humanista? Em tempos de pós-modernismo, em que o cinismo tornou-se tendência estética e estilo literário? Não importa. Não tem respeito às modas, não é? Prossegue pintando, como outros se dedicam a produzir armas, e à noite, vai aos bares, distrair a mente com doses excessivas de cerveja.

O quê? Que humanismo pensas que pode haver nessas carnes destroçadas, nesses violentos contrastes que usas, impudentemente, nessas telas bêbadas, como poetas gingando sob a chuva?

Não percebes que a vida te consome, que o céu está se abrindo em desvarios sangrentos para te receber em tua plenitude dolorosa?

Não vê o mundo rindo doidamente, mostrando dentes amarelos e roxos, apavorantes caninos, vampirescos, à espera de um passo em falso para te conduzir, gentilmente, ao inferno?

Vamos, descansa, desiste. Lança fora o pincel e mergulha na escuridão da história. Apague-se enquanto é tempo. Faça como os outros, vá engraxar as botas de Lúcifer...

Seguidores

 
BlogBlogs.Com.Br