Devolveram o herói

Opa, isso merece um post. Mirisola lançou um blog. Já estreou rasgando todas as regras do bom comportamento social do escritor. É um caso que merece reflexão, o Mirisola. Sua verve diabólica, canalha e libertária, simplesmente não encontra espaço na imprensa tradicional. Ele tá revoltado, com toda a razão. Eu tô revoltado há muito tempo. Mas eu não conto, porque eu não sou ninguém. Quer dizer, sou um escritor relativamente conhecido na web, o que significa lhufas, já que existem outros dez mil na mesmíssima situação. Escrevi um conto ou outro interessante, algumas crônicas boas, umas resenhas originais, mas fundamentalmente eu sou um escritor - digamos - em plena florescência (com perdão da viadagem). Estou vivendo minha obra. Sofrendo pra caralho, mas com muito amor e entusiasmo - e o desespero decorrente, é claro.

Eu tava falando do Mirisola, que lançou um blog, surfando numa contra-onda. Bem, o que eu posso dizer é o seguinte, meu chapa: bem vindo ao inferno. Sua literatura abriu porteiras, tá certo, mas tome cuidado, porque, tradicionalmente, os pioneiros sempre se ferram. Quem se dá bem são os que vem depois, encontrando o caminho já pavimentado, com flores nas laterais e a devida escadinha de mármore ao sopé da mansão do sucesso...

O negócio é que a imprensa escrita se tornou uma insossa perfumaria, e não pode desagradar o homem "médio", aposentados, militares, funcionários públicos, os que caras que ficam horrorizados com as declarações de Paulo Betti sobre a ética, bobinhos, bobinhas e agentes da CIA. É a velha história da indústria cultural. Qual o problema? Nos Estados Unidos tudo dá certo, não é? Os escritores são tão felizes nos EUA. Eles lidam bem com a crítica e ganham rios de dinheiro. Além do mais, os escritores americanos são melhores em tudo, não é?

Para falar de Mirisola é preciso inventar um novo conceito: a Dialética do Despeito. O João Filho, que eu conheci em Salvador, havia inventado a Estética do Perrengue. Ele me contou que estava há quatro dias sem comer antes de ser transladado com honras para a Flip. Agora, tá lá em Salvador esperando outro convite. Como cê tá meu chapa? Voltando ao despeito mirisolástico. Repito, o caso Mirisola merece atenção, porque estamos diante de uma situação constrangedora para o país. O Ademir Assunção acha que precisamos de política de Estado, incluir a palavra Literatura não sei aonde. Distribuir bolsas para escritores. Quer saber? Até que seria uma boa. Mas no Brasil, sei não... Não tem clima. O Caetano não ia deixar. Melhor esquecer. Devo estar errado nisso também, porque eu sempre estou errado nesse tipo de coisa. Consegui vencer o lacerdismo materno, mas o pessimismo de missivista do jornal O Globo, esse não me larga.

A culpa de tudo é do Luciano Huck. Caras como ele poderiam ajudar a solucionar muita coisa. Se ele fizesse propaganda de literatura no seu programa, as vendas de ficção aumentariam vertiginosamente. Hã? Tô falando bobagem? Claro que tô. Eu lá tenho solução? Como todo mundo, estou lutando pela sobrevivência e, em última instância, já me basta salvar a própria pele. Quer dizer, eu escrevo artigos políticos, mas até isso é por interesse próprio, para desopilar o fígado, me vingando de crápulas como Miriam Leitão e Merval Pereira, que me atormentam há anos tentando me empurrar sua opinião globista goela abaixo. Por outro lado, hoje em dia, eu até gosto deles. Eu os amo. Eles me inspiram. Esse ódio, percebi só agora, é fundamental na minha vida. Tenho ficado semanas sem escrever por conta da falta de ódio. Esse é outro conceito importante da Dialética do Despeito, teoria estética cujo maior representante é Marcelo Mirisola.

A única coisa boa que posso falar é que essa imprensa escrita está em crise, e a web não pára de crescer. A venda de computador tem aumentado uns 200% ao ano. Melhor ficar atento a isso, meu caro Mirisola. Indo ao que interessa, internet vai dar dinheiro no futuro. O problema é a lógica da quantidade, que não vale pra literatura.

(Digressão. Fico puto com esses colunistas de jornal, com tiragem de 2 milhões de exemplares, que dizem em suas crônicas: meus dois ou três leitores... blá blá. Ei, são uns mentirosos! Quem tem dois ou três leitores sou eu! E não tenho orgulho nenhum disso. Mas fazer o quê?)

Na literatura, o que deveria valer é a qualidade. Se um patrocinador quisesse bancar meu blog, deveria ser porque ele identificou talento por aqui e resolveu dar uma de mecenas. Taí. Boa idéia. Blogs patrocinados. Empresas patrocinariam blogs e teriam desconto no imposto. Que nem fazem pro cinema. Mas sem burocracia, pelo amor de Deus! E sem impor cotas de quantidade de acesso! Bastava ser aprovado por uma comissão civil criada somente para isso e pronto. A empresa que quisesse patrocinar é que cuidaria da papelada toda. Vejam como sou prático às vezes. É que eu levo à sério essas coisas, cara. Minhas opções também estão se estreitando...

Hum... pensando melhor, a idéia não é tão boa. Porque as empresas só patrocinariam os blogs de seu interesse. Blogs bem comportados. Peraí... Só se... as empresas bancassem os blogs através de renúncia fiscal (ou seja, o governo banca, mas seria uma solução provisória até termos um mercado literário mais pujante), mas seu logo não ficaria exposto no blog. Ficaria apenas a chamada que o blog X era patrocinado pela Lei Y, que prevê renúncia fiscal a empresas que patrocinam blogs literários.

Gosto de idéias que resolvem problemas de falta de dinheiro. Essa solução poderia, se eficazmente implementada, gerar milhares de patrocínios de blogs. Aaammm.... tô com sono, amanhã vou reler esse post para corrigir e, a depender da minha avaliação matutina, até apagar tudo que escrevi. Outra vantagem da internet. Eu posso corrigir, incrementar ou deletar meus textos. Leiam com atenção, porque esse post pode ser condenado à morte.

7 comentários:

Anônimo disse...

com certeza o maior culpado de tudo é o Luciano Huker q idiota! pior é ver um cineasta carioca filho de um escritor acompanhando o casal idiota na riviera francesa.

Guilherme N. M. Muzulon disse...

O herói sempre será um malandro com qualidade.

Tiago Muzulon disse...

Miguel, você tá em forma cara.

Miguel do Rosário disse...

valeu pessoal. abraço a todos.

Miguel do Rosário disse...

ah duarte, a reciproca é verdadeira. abraço.

Anônimo disse...

Oras, Miguel! Mas as estatísticas mostram, literatura vende cada vez mais no Brasil!
(Mas não conte para ninguém que só quem vende são as Zíbias, os Coelhinhos, e essas Auto-Ajudas para aqueles que do que precisam, na verdade, é uma boa surra de relho!).

Publicação no Brasil é um negócio entre chupa-picas. Um deixa-que-eu-finjo dos infernos! Finjo que escrevo, finges que gosta, troca-se umas chupadelas e pronto! Um sorriso amarelo-que-dói no caderno de cultura do jornal.
Chato é aturar a gente, incomodando o fingimento deles.
Que tal se, ao invés de criticarmos (com razão) a postura dessa imprensa escrita, passássemos a fazer pouco caso disso tudo, virássemos as costas para eles, também, e a partir disso, nos focássemos na produção de uma literatura independente? Porque, ganhar muita grana nesse ramo (em vários, né?), aqui no Brasil, sem virar um chupa-picas, não tem como, não.

Anônimo disse...

A situação é desesperadora. Sou totalmente a favor de bolsas para escritores, Miguel. Ou, pelo menos, que houvesse uma política mais efetiva de compra de livros para bibiotecas públicas, algo que permitisse ao escritor viver de direitos autorais. A idéia de patrocínio a blogs também é interessante, até renascentista. Sem dúvida, é preciso fazer alguma coisa.

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